Em sua edição de ontem, dia 23, o “Fantástico” iniciou a série “Tudo pela Vida – Quando o Remédio É Tentar o Impossível”. O objetivo da série com o médico Drauzio Varella é percorrer hospitais públicos do Brasil a fim de revelar a árdua missão para salvar vidas em situações marcadas pela falta de recursos e estrutura básica.
A série será exibida todo domingo durante o “Fantástico”. Assista abaixo o primeiro episódio.
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Primeiro episódio série “Tudo pela Vida” do “Fantástico”
O que aconteceu no 1º episódio da série “Tudo pela Vida”
Dr. Paulo Valões, cirurgião geral do Hospital Geral do Estado (HGE), Maceió – AL
Drauzio acompanhou de perto o trabalho de Paulo Valões, cirurgião geral do Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió (Alagoas), onde trabalha desde 1986, remando contra uma maré de adversidades.
A Área Vermelha Trauma é o seu campo de guerra, povoado de pacientes que chegam em estado grave, com as madrugadas de plantões sendo intensas. Ele explica: “Vêm com ferimento de arma de fogo, de facada, espancamentos”. E é o único hospital da rede pública para atender toda a demanda do estado.
Sorte do paciente ao encontrar um médico como ele
Médico dedicado, e maratonista, ele corre 10km para chegar ao trabalho e não usa telefone celular, além de não ter simpatia por computadores. Trabalha em um setor em que a vida humana está sempre por um fio e muitas vezes o paciente precisa ter sorte para que alguém chame o socorro e que este chegue a tempo. Mais sorte ainda de encontrar um médico como ele. É o que Drauzio Varella e os telespectadores puderam atestar.
Quando chega uma vítima de 31 anos, alcoolizado, o Dr. Paulo se identifica e pergunta o nome do paciente: “Foi uma faca peixeira, foi? Quem fez isso, rapaz? Um caboclo do mal? Vamos dar uma olhada nas suas costas”. A vítima tem três ferimentos e de imediato o médico pede uma tomografia para ter conhecimento da gravidade. Além de não ter paciência para ficar esperando o resultado do exame, não tem um radiologista no hospital naquela hora para analisar as imagens. Então, lá vai ele acompanhar o paciente.
Olhar nos olhos, tocar no doente
Conhecedor profundo da precária realidade do setor de emergência dos hospitais públicos, Drauzio Varella afirma que “conhecimento só não basta. É preciso dedicação, olhar nos olhos e tocar no corpo do doente que está diante dele, fragilizado, necessitando de ajuda. Esse é o médico que exerce a profissão em sua plenitude”.
E Paulo Valões é um destes. O médico acompanha a visita de Drauzio à Área Amarela, onde cinco pacientes estão entubados, relatando as dificuldades e apontando para o corredor com um paciente sobre a maca: “Isso não era para ter, isso não existe”.
Ninguém fica sem atendimento
O médico não se acostuma, mas também não desiste. E é visto percorrendo toda a unidade literalmente “catando” as pessoas que aguardam atendimento. Na UTI são 14 leitos, o que é considerado “muito pouco” por Drauzio. Quem trabalha com Paulo Valões diz que o trabalho é cansativo, mas todos asseguram que para os usuários é um alento.
Naquela noite da visita de Drauzio, três cirurgias tinham que ser realizadas, mas das três salas, apenas duas estavam disponíveis, pois uma precisa ficar livre para emergências. Duas outras salas poderiam receber cirurgias, mas estão trancadas por falta de estrutura.
“Não entra no meu sangue ter que deixar um doente esperando”, afirma Paulo. Para ele, todo minuto é importante e assim procura agilizar tudo em busca de cumprir sua meta de zerar o atendimento durante o plantão.
A noite avança e apresenta mais um desafio: atender uma estudante de Enfermagem que quebrou uma garrafa na mão. E outro: uma adolescente que precisava drenar um furúnculo na axila. Esta deu um trabalhão para que ele realizasse o trabalho. Precisou de paciência e de exercitar seu bom humor, mesmo com toda pressão.
Bem humorado, o cirurgião geral confessa sorrindo que queria mesmo era fazer Obstetrícia, um sonho que acabou realizando por conta própria, pois tem seis filhos. Sérgio Valões, um deles, faz Cirurgia Torácica e está na mesma luta: “Enquanto ele não operar todo mundo que ele viu, conversou, com quem ele tocou a mão ele não vai embora, ele não descansa”.
Colecionador de histórias
Cada paciente atendido é um paciente que ele carrega nos papéis guardados no bolso do uniforme. No dia seguinte ele pega a lista para rever os pacientes. E mantém os arquivos vivos dos pacientes em seus livros desde 1988. Coleciona histórias.
Como o médico Márcio Maranhão, que atestou: “A gente coleciona muitas histórias e essas histórias acabam tatuando você. Durante nove anos eu fui cirurgião torácico de um hospital da Baixada Fluminense, a grande escola de um cirurgião é a saúde pública”. Ele é o autor do livro “Sob Pressão – A rotina de guerra de um médico brasileiro”, que inspirou a série “Sob Pressão”, que começa amanhã, após a novela “A Força do Querer”.
Ele não desiste
Já no final do plantão, Paulo Valões não se conforma com a situação de um rapaz que aguarda sentado, há cinco horas, por uma cirurgia de emergência. E vai atrás de uma maca para iniciar o procedimento. Recorre ao maqueiro, ao centro cirúrgico e até ao necrotério. Aí constata que não existe instrumentadora. Então, utiliza o residente. Outro paciente dá entrada, vítima de uma facada em briga de marido e mulher. Parece ser impossível cumprir a meta de zerar o atendimento. Mas, ele não desiste.
Agora, a luta insana é contra o mau humor do pedal, que precisa ser acionado para fazer funcionar o bisturi elétrico. Se é bandido ou da polícia, ele atende o paciente que estiver em condição mais grave, não tem escolha entre se é do Bem ou do Mal.
– Eu estou vendo o doente naquela hora, eu quero resolver o problema dele. Ele não pediu para levar um tiro, ele não pediu para ser acidentado, ele não pediu para cair da moto; e eu, sim, eu escolhi estar ali para atender ele. Essa escolha foi minha. É de quem está ali, é do médico, a responsabilidade é dele – enfatiza Paulo Valões.
Os planos delineados para o plantão foram cumpridos. Mesmo assim ele carrega consigo a certeza de que é uma ilusão agradar a todos. Contudo, tem a consciência tranquila de quem fez o melhor que podia. “Todos nós”, finaliza, reconhecendo o esforço de trabalho por toda sua equipe.