No dia da mulher, nada melhor do que recontar a história de pioneiras da profissão, celebrando um dia que deve ser de homenagens, mas também de lutas.
A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo foi a primeira escola pública de nível superior do Estado a permitir explicitamente em seu regulamento o ingresso de mulheres. Ainda sim, sua primeira turma, formada em 1918, graduou duas mulheres, Delia Ferraz e Odette Nora, que casaram-se com colegas de turma.
A Associação Brasileira das Mulheres Médicas (ABMM) foi fundada por estímulo da Associação Internacional de Médicas (Medical Women’s International Association – MWIA) em 16 de novembro de 1960, no Rio de Janeiro. Estiveram à frente da empreitada as Dras. Hilda Maip, Hildegard Stoltz e Maria Brasília Leme Lopes (RJ), Elisa Checchia de Noronha (PR) e Elsa Reggiani de Aguiar, Dorina Barbieri e Vicentine Spina Forjaz (SP).
Proibições, discriminação e preconceito marcaram o ideal das primeiras mulheres que ousaram desafiar tudo e levar adiante o sonho de se formarem médicas no Brasil. Mesmo que em um lugar separado na sala de aula – inicialmente no Rio de Janeiro e depois na Bahia – que a gaúcha Rita Lobato Velho Lopes frequentou as aulas e tornou-se a primeira médica formada no Brasil, defendendo em 1887 a tese “Paralelo entre os métodos preconizados na operação cesariana”.
Além de brilhante no exercício da Medicina, foi a primeira mulher eleita vereadora em Rio Pardo, em 1934, pouco depois das mulheres conquistarem o direito ao voto. Permaneceu na política apenas três anos, pois foi cassada pelo Estado Novo, durante a ditadura do presidente Getúlio Vargas. Nascida em 1866, ela foi a primeira mulher brasileira a receber um diploma.
Outras duas gaúchas gravaram seus nomes na História da Medicina, influenciadas por sua dedicação. Ermelinda Lopes de Vasconcelos, de Porto Alegre, concluiu o curso em 1888, no Rio de Janeiro, e durante sua longa jornada na Obstetrícia realizou mais de 10 mil partos. Há um detalhe em sua biografia: a presença do Imperador D. Pedro II presidindo a banca de defesa de sua tese.
Já Antonieta César Dias nasceu em 1869 e era filha do escritor e jornalista Antônio Joaquim Dias. Ele foi o fundador do “Correio Mercantil”, um dos jornais da época na cidade. Embora tenha iniciado os estudos em Pelotas, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1884 com o pai. Lá, ela ingressou na Faculdade de Medicina com apenas 15 anos. Defendeu a tese: “Hemorragia Puerperal” em 30 de agosto de 1889 e faleceu em 1920 no Rio.
Em 1898, com a fundação da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, a jovem Alice Mäeffer não precisou deixar sua terra natal e matriculou-se na primeira turma, graduando-se em 1904 com uma que tese repercutiu além das fronteiras rio-grandenses. No entanto, sua trajetória na medicina é desconhecida.
Maria foi a primeira brasileira a receber uma bolsa de estudos no exterior. Ainda que tivesse apenas 16 anos – dois a menos do que o permitido – a jovem conseguiu ingressar na New York Medical College and Hospital for Women. Durante a graduação, a empresa de seu pai decretou falência, o que impossibilitaria a continuidade de seus estudos.
Ao tomar conhecimento de uma brasileira estudando em Nova Iorque, o Imperador D. Pedro II assinou um decreto para que a futura médica terminasse seus estudos no exterior. Dessa forma, Maria concluiu seu curso em 1879, porém só recebeu seu diploma em 1881 por conta de sua idade. Além de oradora da turma, recebeu também uma medalha de ouro pelo seu desempenho e por sua tese “Moléstias da pele“. Ao retornar para o Brasil, no mesmo ano, foi recebida pelo próprio D. Pedro II.
Para encerrar o segundo post da série, confira a seguir o trabalho realizado pelas acadêmicas Sílvia Eutrópio Vasconcelos, Isabella Zuppo, Graciele Zeferino, Lívia Candian, Ana Carolina Custódio e Marina Abreu para a disciplina de Qualidade de Vida, Gestão Pessoal e da Carreira Médica, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG).
Leia aqui sobre o cenário atual das mulheres na medicina.