Com as infinitas informações veiculadas pela Internet, um certo senhor virtual armou-se de estetoscópio, colocou o jaleco e está disponível 24 horas para atender e diagnosticar os sintomas de pacientes desesperados em busca de alívio e cura para seus males: o Dr. Google.
Não bastassem os alertas feitos durante as consultas, os meios de comunicação de massa estão sempre publicando reportagens e entrevistas com médicos sobre os riscos da automedicação e do auto-diagnóstico. Se há algum tempo a Medicina tinha como grandes concorrentes os autodidatas e as crendices populares, com suas receitas infalíveis para todo tipo de doença, hoje o quadro ficou ainda mais grave.
Atento a isto, o médico cirugião Dr. Marcos Britto da Silva (Ortopedia e Medicina do Esporte), do Rio de Janeiro, é incisivo ao afirmar que “não endossa quaisquer tratamentos, procedimentos ou produtos escritos na Internet” e que as informações que disponibiliza “se destinam somente a orientação educacional dos seus pacientes”. Para ele, “o Google é o oráculo do século XXI”, pois é o local em que o paciente vai para buscar informações sobre medicamentos e tratamentos, a fim de que possa fazer seu autodiagnóstico acerca daquilo que está sentindo.
O fato do paciente já entrar no consultório com seu diagnóstico pronto não deve ser motivo para que o médico se assuste com a concorrência. Ao confiar cegamente em tudo o que lê na Internet, o paciente comete um grande erro e poderá ficar sujeito a efeitos colaterais que simplesmente desconhece.
Aí reside a importância da ida ao consultório, para que tenha uma conversa direta com o médico, que analisará seu quadro e os resultados dos exames sem achismos de um leigo que acredita ser o “Dr. Google” o dono da razão.
O médico deve estar consciente de seu papel, alertando o paciente para que, antes de se automedicar, o procure para confirmar a veracidade ou não das informações recebidas. Estas podem ser contraditórias e cabe ao profissional da Medicina colocar o paciente a par dos riscos a que poderá ficar exposto. Mais do que nunca, agindo assim, o médico estará reforçando os laços de confiança, credibilidade e verdade com o paciente.
Os benefícios da Internet são inegáveis, mas nada substitui o relacionamento direto. O médico precisa ver o paciente e se este hoje já entra no consultório com uma série de informações que antes não tinha, o profissional deve estar pronto para dialogar e apontar os caminhos corretos. Não basta fazer críticas à Internet.
Para a pesquisadora da Universidade de São Paulo, Wilma Madeira, o conhecimento adquirido na rede pode fazer com que o paciente questione melhor os “médicos reais”, pois terá acesso e compreenderá o significado de termos técnicos e de protocolos de atendimento. “Se não entendo o especialista, como posso questioná-lo?”, ela pergunta, destacando que poderá haver uma melhora na relação médico-paciente: “Se o médico entende dúvidas e angústias do paciente, poderá diagnosticá-lo melhor”.
Mas não é a Internet quem deve fazer o diagnóstico e a prescrição dos remédios. Imaginem se o cidadão, leigo e com problema cardíaco, for interpretar determinado exame pela Internet. Ali poderá deduzir que sua doença é tal e que até corre o risco de uma morte súbita. Como a tendência é quase sempre valorizar o pior, com certeza terá seus batimentos cardíacos acelerados sobremaneira. Por isto, para evitar alardes, melhor ir diretamente ao médico.
Mais do que nunca, o médico deve estar pronto para explicar didaticamente a veracidade ou não daquilo que o paciente absorveu na rede, alertando-o para que tenha cuidado e duvide sempre. Deve esclarecer suas dúvidas e fazer com que compreenda da melhor forma o mal que o aflige, orientando-o de forma correta.
A democratização da informação é importante e a consulta na Internet é válida, mas jamais substituirá a consulta com o médico. Cabe ao profissional esclarecer isto ao paciente.