Como dar ao paciente um diagnóstico difícil? E qual a melhor maneira de comunicar aos familiares e amigos de um doente o seu difícil e quase irreversível quadro?
Todo ser humano tem o sagrado direito de receber as informações corretas sobre suas condições de saúde e doença. Assim como acerca de suas possibilidades terapêuticas diante da gravidade da situação.
Da mesma forma, é importante relembrar que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) garante ao indivíduo a possibilidade de controle, a segurança e o sigilo de todos os dados de seu tratamento. Portanto, compete ao médico ter a necessária sensibilidade para dar ao paciente um diagnóstico difícil.
O dever de comunicar uma má notícia é uma rotina na vida dos profissionais do setor de Saúde. Com toda a certeza, é uma questão sobretudo humanitária e que deve ser objeto de discussão já nas aulas das faculdades de Medicina.
É um momento que remexe com os sentimentos e a sensibilidade. Sem dúvida, até mesmo os médicos mais experientes sentem dificuldades e desconforto, principalmente nas enfermidades sem cura ou tratamento.
Nesse sentido, basta relembrar o dilema que se impôs logo após a pandemia da Covid-19, com o desgaste do trabalho incansável dos profissionais da área da Saúde.
Além de precisar estar atento ao relacionamento médico-paciente, nos comunicados com familiares e amigos, também era necessário buscar um controle interior.
Então, os médicos ligaram o sinal de alerta diante da convivência permanente com os riscos provocados pelo burnout, procurando equilibrar-se diante da tristeza pela perda de pacientes e também de colegas e de profissionais de outras especialidades que lutavam contra a pandemia.
Nos últimos 15 anos, cresceram de forma acentuada as discussões em torno do problema, na busca de uma preparação ideal de médicos e enfermeiros, sob a ótica de trabalhar corretamente a informação. A busca de uma atuação eficaz se faz necessária, levando-se em conta as experiências profissionais de cada um.
Nesse sentido, os profissionais da área médica devem ter em mente as condições individuais de cada paciente, tendo em vista seus aspectos psicológicos, sociais e culturais.
Entretanto, a tarefa se torna mais difícil quando a doença é incurável. E mais complicada ainda quando o enfermo não julga que seu quadro é tão desesperador e irreversível assim.
Então, médicos e enfermeiros devem estar devidamente preparados para saber, no melhor momento e no ambiente adequado, como fazer a revelação e em que medida fazer o comunicado. Além disso, é fundamental ter a dose necessária de sensibilidade, com a consciência do estado real do paciente e de sua capacidade de reagir à notícia que receberá.
Certamente, compete ao médico, conforme grande maioria dos estudos já detectaram, revelar o diagnóstico ao paciente, que prefere ouvir dele a notícia.
Contudo, muitas vezes, a preferência pode recair sobre o enfermeiro, por quem o doente tenha maior empatia, englobando aí dedicação, carinho, conforto e confidências, até se criar laços de amizade.
Sem dúvida, trata-se de um instante de grande importância. Afinal, comunicar ao paciente um diagnóstico difícil poderá gerar situações extremas, afetando sintomas, modificando o comportamento e as relações sociais.
Vários estudos têm apontado na direção de que tal comunicação deve priorizar um ambiente quieto e tranquilo. É preciso haver privacidade e conforto, com arranjos físicos que permitam uma distância interpessoal adequada.
No momento em que a comunicação se realizar, mais do que nunca deve estar presente a relação médico-paciente. É um instante quase solene, em que médico e paciente estão unidos e o fator tempo deve ser esquecido. Dessa maneira, o profissional precisa reservar um horário especial para a conversa, sem pensar na próxima consulta.
De forma concisa e sem dar margem para interpretações equivocadas, o médico dará o diagnóstico com uma linguagem adequada e compreensível. Desse modo, não deixará dúvidas tanto do enfermo quanto de seus familiares. Com toda a certeza, honestidade e clareza, suavidade e respeito são recomendações das quais não se deve abrir mão.
Existem controvérsias acerca da quantidade de informação sobre o diagnóstico que o paciente deve ouvir. Nesse sentido, é importante observar o estágio da doença e o estado psicológico do enfermo. Além disso é preciso ter sensibilidade para perceber o quanto ele gostaria de saber sobre o estágio de sua doença e as perspectivas de cura.
Todavia, é recomendável que os detalhes acerca do diagnóstico sejam dados em vários encontros, repetindo-se as explicações devidas quantas vezes se avaliar necessárias. A dose de informação estaria, pois, diretamente ligada às reações nos encontros anteriores.
Até se chegar a este ponto, é preciso haver uma preparação, passo a passo, a fim de que se possa superar a dificuldade e para que o doente esteja com disposição para colaborar durante o tratamento.
Se os cuidados começam antes do diagnóstico, devem continuar durante e até depois do tratamento. Trata-se de um momento de muita angústia e ansiedade, pois muitos recebem a informação fatal como se fosse sua sentença de morte. Com toda a certeza, isso causa incertezas, angústias, ceticismo, revolta e questionamentos.
Portanto, médicos e enfermeiros devem se preparar para atuar com eficiência e humanidade, respeitando também a vontade do enfermo em saber ou não de seu real quadro clínico, a verdade sobre a sua evolução e possíveis tratamentos.