Ser os olhos de um deficiente visual. Esta foi a motivação para que o dinamarquês Hans Jorgen Wiberg colocasse em prática seus conhecimentos, desenvolvendo o aplicativo Be My Eyes (“Seja Meus Olhos”), que tem ajudado mais de 25 mil cegos em todo o planeta. O software foi criado no primeiro semestre do ano passado e está disponível em 140 países, contabilizando mais de 339 mil voluntários. Como se trata de uma ação voluntária, o programa depende da disponibilidade das pessoas para fazer o atendimento, mas é mais uma ferramenta para facilitar os cegos a enfrentar até mesmo os desafios mais simples da vida diária, como ler uma conta telefônica ou a validade de determinado produto.
Hans também tem problemas de visão e iniciou seu trabalho ao utilizar o “FaceTime”, um programa do iOS para chamadas em vídeo, relatando o caso para alguns amigos cegos que também recorriam a esse recurso de conversação sempre que necessitavam de alguma assistência. Entretanto, sempre tinham que ligar para algum conhecido e isso levou Hans a imaginar que poderiam fazer o mesmo através de um grupo de voluntários que respondesse as chamadas.
Inicialmente, sua ideia era que as pessoas cegas utilizassem o programa principalmente em casa, onde precisam resolver várias coisas, além da possibilidade de contar com uma boa conexão por wi-fi. Hoje, o aplicativo é utilizado em diversas outras situações também fora de suas residências, como por exemplo, quando saem e, ao retornarem, têm dificuldade de encontrar a entrada do prédio.
Hans Wiberg explica que tanto voluntários quanto deficientes visuais em geral podem se cadastrar no “Be My Eyes”, derivando daí uma preocupação com relação à qualidade na interação e também à segurança. As respostas têm sido muito mais positivas do que negativas, mas ainda assim ele acredita ser importante ter uma avaliação: “Os usuários podem relatar e avaliar a qualidade do serviço prestado por cada voluntário. Se for identificado que algum usuário age de forma inapropriada, ele é banido do aplicativo”.
Gratuito e disponível para o sistema operacional iOS na AppStore, o “Be My Eyes” foi desenvolvido pela Robocat e funciona como um sistema de câmera direta, conectando deficientes visuais com voluntários e permitindo que, por meio da fala e da imagem, problemas simples do cotidiano sejam resolvidos rapidamente. Ao entrar no aplicativo, o usuário escolhe se é um voluntário ou um deficiente visual e aguarda até que um pedido de ajuda seja enviado. As orientações do voluntário são feitas por escrito e o aplicativo consegue lê-las em voz alta para a pessoa com o problema visual. No segundo caso, o aplicativo oferece toda a acessibilidade necessária para se conectar à outra pessoa.
Logo que é instalado, o programa pede ao usuário para se identificar: como quem oferecerá ajuda ou quem vai receber. Ato contínuo, a pessoa tomará dois caminhos diferentes após se cadastrar. Se entrar como voluntária, conseguirá visualizar uma tela com dados referentes ao número de deficientes que já ajudou e o total de pontos que ele acumulou até então, funcionando como uma espécie de estímulo, a fim de incentivar o usuário a ajudar mais cegos para conseguir subir de nível.
Se o usuário entrar como o deficiente que precisará de ajuda, será levado para uma nova tela, onde só precisará tocar em qualquer parte para solicitar o auxílio. Após isso, algum usuário voluntário receberá o pedido e se iniciará uma chamada, bastando que o deficiente aponte a câmera para onde deseja receber ajuda e tirar a dúvida. Se o voluntário não estiver disponível naquele momento, a notificação será imediatamente redirecionada para outro usuário.
O aplicativo tem ainda um importante recurso que impede que duas pessoas que não se deram muito bem sejam conectadas novamente, o que poderia ser um pouco constrangedor.
Confira também em nosso Blog o post “Dia Mundial da Visão”, em 8 de outubro de 2015.