O programa “Fantástico” da Rede Globo apresentou na noite do dia 06/08 o 3º episódio da série Tudo pela Vida – Quando o remédio é tentar o impossível”.
O médico Dráuzio Varella mostrou as histórias e os desafios daqueles que lutam pelos transplantes, revelando a rotina de cirurgiões que vivem sob permanente estado de alerta, pois dormem preparados para acordar em sobressalto se o telefone tocar no meio da madrugada. O programa também apresentou a desesperada corrida para garantir a qualidade do órgão que acaba de ser doado e a emoção de dar uma nova chance para os enfermos com doenças terminais.
Para ele, “abrir o corpo da pessoa e retirar o órgão doente e substituí-lo pelo de alguém que acabou de morrer é um dos milagres da Medicina moderna”.
A série será exibida todo domingo durante o “Fantástico”. Assista abaixo o terceiro episódio.
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Capítulo anteriores:
Primeiro episódio da série “Tudo pela Vida”
Segundo episódio da série “Tudo pela Vida”
A história de Marcelo Isozaki, de 40 anos, é o primeiro embate dos médicos contra o tempo para transformar a morte em esperança. Passavam das 22 horas quando Wellington Ardraus, coordenador dos transplantes de fígado no Hospital das Clínicas de São Paulo, deu a boa notícia para o pai de dois filhos pequenos que tem uma doença incurável e precisa de um transplante de fígado para vencer a previsão de sobreviver apenas poucos meses.
– Olhamos a foto, achamos bonito – anuncia o doutor.
– Está bonito? – Marcelo pergunta.
– Está bonito o fígado, combina com o paciente.
– Ah! Que bom. Obrigado, obrigado! – exclama o paciente sobre a cama e levantando as mãos.
Uma nova chance para quem está à beira da morte é a luz no fim do túnel para os pacientes, além de ser o que move estes especialistas em transplantes. Às 23h25m, focalizado em uma cirurgia, o Dr. Wellington é informado por Liliana Ducatti, cirurgiã hepática do HC, sobre a chegada de outro fígado que poderá salvar mais uma vida. A assistente pergunta se pode mostrar a foto que aparece no celular. Pode. Ato contínuo, a qualidade do órgão é discutida sem perda de tempo.
Segundo o Dr. Drauzio, “Wellington é um dos quatro médicos responsáveis pelo primeiro transplante de útero da América Latina, realizado em setembro do ano passado, um marco na história da Medicina brasileira”. O cirurgião afirma que “conseguimos a liberação do Comitê de Ética e esse caso até agora está indo muito bem”.
Hoje, o HC de São Paulo é centro de referência, com 85% dos pacientes ali operados apresentando boa aceitação do órgão transplantado. Está acima da média do Brasil, cujo índice é de 72%.
Em outra cena, o Dr. Carlos Lavagnoli recebe um telefone do colega Paulo, da Central de Transplantes do HC de Campinas, informando que receberam uma oferta de coração. A captação está agendada para 9h30 e o cirurgião passa de imediato a analisar os dados do doador, consultar colegas e negociar prazos para realizar o transplante.
A operação é remarcada para 11h e uma grande equipe é mobilizada em seguida. Ele liga para a D. Vilma Lugatto, que está na fila desde 2003. Ela tem 56 anos, três filhos e três netos. Dr. Carlos percebe que foi pega de surpresa e diz: “Deu um susto. É, é assim, do nada surge”. É o seu presente de Dia das Mães, um domingo.
Dr. Drauzio Varella afirma que “a doação do órgão depende de um trauma cerebral irreversível”. Segundo ele, “no Brasil ainda é difícil convencer os familiares de que existe milagre possível depois de constatada a morte cerebral”. E apresenta números: 5939 famílias foram consultadas nesse momento de luto e dor, sendo que 2571 (43%) não autorizaram a retirada de órgãos. Em 2016, 2013 morreram na fila, sendo 82 crianças.
Para Marizete Peixoto Medeiros, coordenadora da Central de Transplantes, é importante que a pessoa certifique sua família acerca do desejo de ser doador. “Só a família, na legislação atual, pode decidir pela doação de órgãos de um membro da família”, enfatizou.
O mecânico Mário Marcelino de Freitas estava há quase quatro anos na imponderável fila e já pensava em retornar com a esposa Edilene para Governador Valadares (MG). Ele mora com ela em uma casa de apoio para os enfermos que aguardam ser chamados em São Paulo. Teve dengue hemorrágica, que desencadeou a cirrose hepática, vendo-se obrigado a deixar a oficina de trabalho e a família. Chegou a pedir para a mulher levá-lo de volta, pois preferia morrer em casa.
É quando o Dr. Wellington retorna à cena, pois Marco Antônio de Freitas, irmão de Mário, viajou quase 1.000km para fazer a doação de parte do fígado, tendo emagrecido 4k em 12 dias para estar em condições físicas ideais para a cirurgia. Segundo o Dr. Drauzio Varella, somente 20% dos transplantes de fígado são realizados entre pessoas vivas.
– Como se recupera o doador? – pergunta ao Dr. Wellington.
– O doador se recupera muito bem. As pessoas precisam apenas de 30% do volume total do fígado para sobreviver. E depois da cirurgia, o órgão vai regenerar e voltar ao tamanho normal ou um pouco menos – ele explica.
O transplante de Mário foi um sucesso e o Dr. Wellington disse que “deu um pouco de trabalho, mas acho que tem tudo para ir bem”. Agora, os dois irmãos planejam o futuro e Marco ainda brinca: “Ele tem coração atleticano e fígado cruzeirense”.
Marcelo teve mais sorte e esperou só 45 dias e o doador que surgiu era compatível com ele. Enquanto o fígado era captado em outro hospital, Dr. Wellington e a equipe se preparam. Era necessário correr contra o tempo, trabalhando de forma sincronizada. Ele coloca uma lupa nos óculos (“Faz muita diferença.”) e ainda coloca uma música para relaxar.
Drauzio Varella explica que “a retirada do fígado no doador e o implante no receptor precisam ser sincronizados. É preciso diminuir ao máximo o tempo de isquemia, que é a falta de circulação sanguínea que leva oxigênio aos órgãos”. Wellington Andraus acrescenta: “O limite teórico seria até doze a quinze horas. Nós temos conseguido uma média de sete horas, que é excelente”.
Em sua análise, o transplante de Marcelo foi bem rápido pelo problema que ele tinha. Após a cirurgia, conversaram. Feliz, ele falou sobre o trabalho do médico: “É que há amor no que faz. E este (apontando para o Dr. Wellington) é uma pessoa que faz com amor”. O cirurgião divide os elogios do sucesso: “Eu acho que aqui, mais importante que a pessoa é a equipe toda, que trabalha junto. Uma pessoa só não consegue fazer”.
Em Campinas, antes da operação, D. Vilma estava assustada, com medo, mas feliz. O prazo máximo de isquemia em um coração não pode exceder 4 horas. Após retirar o coração do doador, o próprio Dr. Carlos realizou o implante, na sala em frente, em cravados 43m38s51c. Quando terminou, disse: “Pode parar o cronômetro”. E tranquilizou a paciente e seus familiares: “Foi um sucesso o transplante, o órgão era muito bom, um coração novo, com a função bastante preservada. Já está tudo bem, viu? Coração novo, a senhora já está aqui na UTI”.
Mesmo com o sucesso da D. Vilma, o Dr. Carlos Lavagnoli aparece na tela conduzindo sua paciente pelo corredor até o elevador e diz que “você ainda tem muito chão pela frente”. Ela devolve, dizendo para a câmera: “Como pode uma pessoa ter tanta atenção assim, eu fico impressionada, um médico como esse é muito difícil”.
O médico Otávio Rizzi Coelho, chefe da Unidade Coronariana do HC de Campinas, ressaltou: “O transplante cardíaco exige mais do que a formação, exige uma dedicação do cirurgião, que é o que a gente vê no Carlos. Você tem que estar disponível doze horas por dia, sete dias por semana, cinquenta e duas semanas por ano”.
No final do episódio ficou a certeza da gratidão dos pacientes e de seus familiares para com o Dr. Wellington Andraus e Dr. Carlos Lavagnoli, que não querem outra vida. A cada transplante ganham uma família de admiradores.