Em 8 de março, comemoramos o Dia Internacional da Mulher. Para homenageá-las, elaboramos uma série de posts especiais sobre a presença das mulheres na Medicina. Iremos falar desde seus primórdios, até a atualidade.
De acordo com a Demografia Médica do CFM e CRMs de 2023, existem cerca de 546 mil profissionais de Medicina em atividade no Brasil. Desses, 49% (267,7 mil) são mulheres.
Embora majoritariamente masculina, detecta-se desde 2009, no Brasil, um número cada vez maior de mulheres se entrando na Medicina. A entrada já é superior à de homens, indicando uma “feminização” da profissão.
Neste post veremos:
- O crescimento da presença das mulheres na Medicina.
- As especialidades que reúnem mais mulheres.
- Desigualdade de gênero: elas têm salários menores.
- Mulheres que se destacaram na Medicina nos últimos anos.
Presença das mulheres na Medicina: temos cada vez mais médicas
A pesquisa Demografia Médica do Brasil 2023 continua mostrando uma crescente na quantidade de mulheres se formando em cursos de graduação. Ainda assim, os homens ainda são a maioria exercendo a profissão.
O professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Mário César Scheffer, coordenador da Demografia Médica no Brasil, realizada pela USP, diz que a tendência de feminização da profissão continua.
“O fenômeno da feminização da medicina é retomado, considerando não só o aumento consistente da quantidade de mulheres na profissão, mas também a desigualdade de gênero na renda e na ocupação de especialidades médicas”, afirma.
Em 2023, entre cerca de 546 mil profissionais ativos no Brasil, homens representam 51% do contingente (277,8 mil profissionais) e as mulheres, 49% (267,7 mil).
Entretanto, a projeção indica que as mulheres serão maioria entre os médicos no Brasil a partir de 2024.
Mais de 60% dos ingressantes na graduação são mulheres. O fenômeno já vinha sendo observado desde 2009 junto aos egressos da graduação e novos registros em CRMs.
Estima-se, ainda, que, em 2035, o contingente passe a ser 56% feminino.
Em quais especialidades as mulheres estão mais presentes?
A Demografia Médica do Brasil, elaborada pela Faculdade de Medicina da USP, mostra que a especialidade com maior número de mulheres é a Dermatologia, com 8.236 médicas, que correspondem a 77,9% dos dermatologistas.
Elas ainda são maioria em:
- Pediatria (75,6%),
- Alergia e Imunologia (72,1%),
- Endocrinologia e Metabologia (72,1%),
- Ginecologia e Obstetrícia (cerca de 60%),
- Geriatria (cerca de 60%),
- Hematologia e Hemoterapia (cerca de 60%),
- Genética Médica (cerca de 60%).
As especialidades de Nutrologia, Medicina Física e Reabilitação, e Gastroenterologia estão proporcionalmente equilibradas entre homens e mulheres.
Presença das mulheres na Medicina: menores salários
Mesmo com a crescente presença feminina na Medicina, ainda existem grandes diferenças na remuneração.
Mário Scheffer analisa o resultado da pesquisa e faz um alerta:
“O fenômeno (da feminização) demanda acompanhamento na perspectiva da superação da desigualdade de gênero, pois há evidências de que as médicas recebem remuneração inferior à dos médicos e são minoria na maior parte das especialidades”, diz.
Segundo o estudo da USP, as médicas declararam renda equivalente a 64% da registrada pelos homens.
Em todas as faixas etárias, os homens declaram rendimento superior, enquanto mulheres têm variações menos flexíveis.
Infelizmente, as diferenças tendem a persistir mesmo com ajustes por especialidades e carga horária.
Mulheres que se destacaram na Medicina nos últimos anos
No nosso primeiro post, Presença das mulheres na Medicina: história de conquistas, destacamos os nomes das pioneiras na profissão. Acesse para relembrar a história das mulheres na Medicina ao longo dos séculos e relembrando as primeiras médicas no Brasil!
Aqui, queremos dar destaque a algumas mulheres que deixaram o seu nome marcado na Ciência e na Saúde, desde o início dos anos 1900 até agora, passando pelo difícil período da pandemia de Covid-19. Confira.
Gerty Cori (1896 – 1957)
Foi a primeira mulher a ganhar um prêmio Nobel, por suas descobertas sobre o Diabetes. Em 2004, foi homenageada pelo seu trabalho no esclarecimento de questões sobre o metabolismo de carboidrato.
Nise da Silveira (1905 – 1999)
Uma das primeiras médicas do Brasil, ela lutou pelo tratamento humanizado em manicômios, implementando a Terapia Ocupacional e as artes plásticas no tratamento psiquiátrico.
Gertrude Elion (1918 – 1999)
Desenvolveu o primeiro medicamento para tratar a leucemia e fármacos para o tratamento da malária, gota e herpes viral.
Zilda Arns (1934 – 2010)
Fundadora das pastorais da Criança e da Pessoa Idosa, lutou para salvar a população carente de problemas como mortalidade infantil, desnutrição e violência familiar.
Patrícia Bath (1942 – 2019)
Referência mundial em oftalmologia. Desenvolveu a cirurgia de catarata por laser. Promoveu o cuidado da visão na população mais vulnerável nos EUA, numa época de grande segregação racial.
Françoise Barré-Sinoussi
Descobriu o vírus HIV e ganhou o Prêmio Nobel. Desde então, trabalha para melhorar as condições de prevenção, cuidados e tratamento da AIDS.
Mariângela Simão
A médica brasileira é diretora-geral-adjunta para Medicamentos e Vacinação da agência da Organização das Naões Unidas (ONU) e diretora-adjunta da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em 2022, coordenou uma verdadeira força-tarefa nas questões envolvendo medicamentos, vacinas e alcance de informações, na tentativa de combater a propagação do coronavírus. Sua prioridade são as questões humanitárias.
Jacqueline Goes e Ester Sabino
Estas cientistas brasileiras coordenaram o grupo de pesquisa que sequenciou, em tempo recorde, o genoma do coronavírus, no Brasil. Foram apenas 48 horas e ainda utilizando uma metodologia de baixo custo.
Jacqueline é biomédica e pós-doutora em Medicina Tropical na USP. Ester é imunologista e coordena um centro de parceria entre Brasil e Reino Unido para estudo de arbovírus.
Sue Ann Costa Clemens
Médica infectologista que liderou os estudos em torno da vacina Oxford-AstraZeneca no Brasil.
Angelique Coetzee
Médica que detectou o primeiro caso da variante ômicron e Presidente da Associação Médica da África do Sul.
Nísia Verônica Trindade Lima
Foi presidente da Fundação Oswaldo Cruz entre 2017 e 2022, sendo a primeira mulher a ocupar esse cargo em 120 anos da instituição. Em 2023, tornou-se Ministra, sendo a primeira mulher a chefiar o Ministério da Saúde.
Na Fiocruz, liderou as ações durante a pandemia e coordenou operações muito importantes, como a instalação de um centro hospitalar, ensaios clínicos da vacina Oxford-AstraZeneca, organização de ações emergenciais junto a populações vulneráveis e muitas outras.
Myrian Krexu
Aos 34 anos, é a primeira cirurgiã cardíaca indígena do Brasil. Atualmente, realiza projetos com as comunidades indígenas.
Mariana Perroni
Palestrante do TEDx em tecnologia e saúde. É a única médica na América Latina no Clinical Lead, do Google. Foi diretora médica de inovação e saúde digital do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e primeira médica da IBM Watson Health na América Latina.
Katalin Karikó
A pesquisa da bioquímica Katalin Karikó foi fundamental para enfrentar a crise de saúde causada pela Covid-19. Por esse trabalho, em 2023, ela ganhou um Nobel de Medicina, neste caso ao lado do imunologista Drew Weissman, se tornando a 13ª mulher a conquistar o Prêmio.
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