Testes realizados com o primeiro medicamento oncológico produzido em Portugal apresentaram resultados consideráveis no ensaio clínico e deixaram os pesquisadores otimistas. A primeira fase dos testes foi realizada com um grupo de doentes voluntários na cidade do Porto, no Instituto Português de Oncologia (IPO) e no Hospital da CUF. O objetivo foi avaliar a tolerância e o efeito da droga no tratamento dos cancros da cabeça e pescoço. Um doente que se encontrava em cuidados paliativos ficou sem sinal do tumor. O Redaporfin é um fármaco fotossensibilizador produzido em Portugal que já havia sido testado com excelente desempenho em ensaios não clínicos utilizando modelos animais. A molécula foi descoberta na Universidade de Coimbra e a droga começou a ser desenvolvida em 2010 pela Luzitin, empresa criada a partir da Bluepharma, reconhecida farmacêutica que produz medicamentos para mais de 100 marcas e que exporta 85% da sua produção para 40 territórios. O medicamento também pode ser usado como tratamento do cancro das vias biliares, tumor muito raro, e a expectativa é de que possa ser uma opção terapêutica a partir de 2022.
Segurança e eficácia
Responsável pelo ensaio clínico, o oncologista cirúrgico Lúcio Lara Santos, do IPO, afirmou à agência de notícias “Lusa” que os resultados alcançados abrem a possibilidade de tratamento para outros tumores sólidos. Segundo ele, os testes realizados com o Redaporfin foram positivos em termos de segurança e eficácia. Os ensaios clínicos foram iniciados há cerca de dois anos e meio em um grupo de pacientes para os quais as soluções terapêuticas já estavam descartadas. Os efeitos colaterais foram facilmente controlados.
O presidente da Luzitin, Sérgio Simões, enfatizou que o Redaporfin melhorou a qualidade de vida de vários pacientes que se encontravam sob cuidados paliativos, sem poder comer e falar, conseguindo fazê-lo após receberem o medicamento. O oncologista Lúcio Santos destacou que o efeito contra o tumor foi muito rápido, destruindo a totalidade do tumor tratado, acrescentando que “este efeito parece ser sustentado ao longo do tempo” e que “a sua associação a outros tipos de tratamentos sistêmicos parece ser também promissor”.
Otimismo
A constatação científica dos testes realizados deixa os pesquisadores bastante otimistas. Lúcio Santos prevê que “adicionalmente, a aplicação deste tratamento em doentes com outros tipos de tumores com prognóstico muito desfavorável, como o colangiocarcinoma, poderá conduzir a ganhos muito significativos para os doentes em termos de qualidade de vida e de sobrevivência”. Para ele, está evidenciado que o Redaporfin seja utilizado como opção terapêutica no protocolo de tratamento destes tumores.
Conforme frisou, mais à frente, novos testes serão realizados, abrangendo um número maior de doentes. Isto possibilitará revelar de forma definitiva “o valor e os benefícios da terapia fotodinâmica com Redaporfin em oncologia”.
Experiências
Vários estudos e experiências foram realizados em ratinhos, entre 2011 e 2014, comprovando a eficácia da molécula Redaporfin. Em julho do ano passado, um estudo publicado no “European Journal of Cancer” revelou que 86% dos ratinhos com tumores diversos que foram tratados com esta tecnologia, seguindo exigentes protocolos de segurança, ficaram curados. Não foram observados efeitos secundários como acontece com os tratamentos convencionais, como a quimioterapia, além da taxa de reincidência da doença ter sido muito baixa.