A velocidade do crescimento da utilização de Big Data nos inúmeros ramos científicos tem proporcionado avanços inestimáveis para a população. Em evolução, deixa entrever a explosão de uma revolução e, na área da Saúde, está presente de forma destacada na Medicina de Precisão (Precision Medicine) e nos Prontuários Eletrônicos do Paciente (PEPs), com a utilização remota do mesmo prontuário por todos os estabelecimentos de saúde. Já se antevê, com bastante otimismo, sua atuação na área denominada Internet das Coisas (Internet of Things). O Big Data proporcionará ganhos importantes em termos de dinheiro, tempo e vidas. Importante destacar que a utilização dos prontuários resguarda totalmente o sigilo do nome de cada paciente.
As informações no campo da Saúde se multiplicam de forma avassaladora, abrangendo aplicativos, PRPs, wearable devices (dispositivos vestíveis, como relógios com múltiplas funções na área de Saúde, e pulseiras fitness) e uma gama enorme de equipamentos médicos. Não estruturados e conhecidos como Big Data, são a grande aposta para o desenvolvimento da Medicina de Precisão, que poderá levar a comunidade médica a personalizar os tratamentos em nível molecular.
O Big Data consiste no armazenamento e cruzamento das informações de uma imensa gama de pacientes, através de um banco de dados de evidências clínicas. Sua função é disponibilizar para os profissionais de saúde todos os dados dos pacientes, permitindo que estabeleçam a partir daí uma comparação para saber quais os pacientes que dão melhores respostas a determinados tratamentos em indivíduos com o mesmo perfil. Com tudo isso em mãos, em vez de se basear em grandes médias, os médicos terão condições para elaborar diagnósticos concisos e prescrever melhores tratamentos.
Remédio certo para o paciente
Ao receitar um medicamento baseado em médias, existe a possibilidade da droga não ser eficiente para todos, sendo ineficaz, por exemplo, para adultos acima de 60 anos, que apresentem um histórico de alcoolismo, tenham tido um AVC, dentre outras peculiaridades. Loucura? Sonho? Pode até parecer, mas o objetivo dos pesquisadores é que se alcance a condição ideal de fazer uma prescrição destinada somente para aquelas pessoas para as quais o remédio seja realmente eficaz.
Claro que existe a consciência de que atingir os 100% de precisão é muito difícil, devido às múltiplas causas de uma enfermidade. Daí a importância de que haja investimento maciço para aumentar o tamanho das amostras na realização dos estudos e das pesquisas. Sobretudo, incentivando os “novos estudos multicêntricos que usem a mesma metodologia e pelo ‘linkage’ de dados públicos já existentes”, conforme destacou o pesquisador da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Alexandre Dias Porto Chiavegatto Filho, em artigo publicado na revista “Epidemiologia e Serviços de Saúde”: “Uso de “big data” en salud en Brasil: perspectivas para um futuro próximo”.
– A digitalização de todos os dados dos pacientes pelos serviços de saúde também será fundamental para estimular novas análises e aumentar o tamanho das amostras. De especial importância será a universalização do uso integrado do Prontuário Eletrônico do Paciente. No Brasil, algumas das oportunidades de análise de big data mais imediatas incluem o ‘linkage’ dos bancos de dados mantidos pelo Ministério da Saúde, como o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), o cartão SUS, entre outros, além da colaboração entre centros de pesquisa nacionais e internacionais para o desenvolvimento de pesquisas multicêntricas – enfatizou.
Pesquisas oncológicas
No ano passado, o presidente Barack Obama anunciou investimentos de 215 bilhões de dólares para um programa de Medicina de precisão. Com isso, os Estados Unidos iniciaram a construção de uma base de dados que contenha informação genética, registros médicos e demais dados sobre mais de um milhão de americanos. Com isso, os pacientes inseridos na base de dados se tornarão voluntários e o objetivo é ajudar profissionais de saúde e pesquisadores a entenderem melhor os vários tipos de enfermidades, dentre elas o câncer.
A Medicina de Precisão avança a passos largos, com transformações que trazem alento e esperança em relação às pesquisas na luta contra o câncer. Segundo o National Cancer Institute (NCI), a compreensão desta enfermidade começa por identificar os genes e as proteínas consideradas anormais, que correm risco de desenvolver um tumor. Assim, a identificação e a análise das anormalidades permitirão diagnosticar e determinar o desenvolvimento e a utilização de terapias especificamente direcionadas.
Em seu site, o NCI enfatiza: “Depois de décadas de pesquisa, estamos prestes a entrar em uma nova era de práticas médicas, onde a informação genética e outras informações moleculares são rotineiramente usadas em prol da eficácia e remédios específicos para o tratamento. Estamos prestes a entrar na era da Medicina de Precisão”. O sistema do NCI incorpora dados genéticos, bioquímicos, comportamentais e clínicos de pacientes para a definição dos subtipos moleculares, a fim de identificar abordagens mais precisas para o tratamento.
Uso integrado do Prontuário Eletrônico
Nos EUA, conforme destacou recentemente a revista Health Affairs, iniciativas nesse sentido já aparecem e a operadora de planos de saúde Kaiser Permanente conta com um biobanco que liga informações genéticas aos prontuários eletrônicos de 500 mil pessoas. Além disso, projetos semelhantes estão em andamento no Reino Unido e dentro do próprio projeto Genoma Humano.
A análise informatizada desse Big Data possibilitará criar algoritmos que transformarão os dados em conhecimento. Os padrões serão identificados de maneira mais ágil e não-enviesada, podendo ser importante ponto de apoio para o diagnóstico e a decisão médica. Dessa forma, será possível garantir tratamentos mais eficazes e personalizados, melhorando os resultados assistenciais e a utilização de recursos nos sistemas de saúde.