O Brasil caminha para ter o primeiro genérico do medicamento norte-americano Truvada, que previne contaminação pelo vírus HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), causador da Aids. Atualmente, o produto é importado pelos brasileiros a um custo elevado e o Ministério da Saúde (MS) também importa componentes do remédio para distribuição pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Na Europa e nos Estados Unidos, o medicamento custa 400 euros, podendo chegar a US$ 1 mil. A fabricação do genérico no Brasil, com o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pode reduzir esse valor para um custo mensal de US$ 100 ou cerca de R$ 350 mensais. Segundo a Assessoria de Imprensa do MS, o genérico foi desenvolvido pela empresa brasileira Blanver, integrante do grupo de indústrias farmacêuticas que firmaram Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo com o MS.
As PDPs foram criadas pelo Ministério da Saúde para fortalecer a indústria nacional farmoquímica e de medicamentos através da Portaria nº 837/2012. Conforme sua filosofia, a indústria desenvolve a tecnologia de medicamentos e tem o prazo de cinco anos para transferir essa tecnologia para a Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz). Após esses cinco anos, a Fiocruz domina o processo e passa a fornecer diretamente para o Ministério.
Eficácia equivalente
A droga surge como nova opção e já passou por testes comprovando eficácia equivalente ao Truvada e espera-se que até o fim do ano esteja liberado para comercialização. Sua grande vantagem é o preço e a expectativa é a de que seja 50% mais barato do que o Truvada, já se discutindo se a droga será incorporada no sistema público e como isso ocorrerá. Parte do medicamento genérico deverá ser distribuída pelo SUS e parte será destinada a pacientes fora do SUS.
Segundo o Ministério da Saúde, ainda não há pedido de incorporação do medicamento genérico do Truvada no órgão e a Anvisa aguarda a entrada do pedido de autorização da indústria farmacêutica para avaliação. A expectativa é que a Agência defina o registro ao genérico em menos de um ano. O novo medicamento não tem como objetivo substituir os métodos de prevenção já estabelecidos, mas sim se tornar mais uma alternativa aos métodos existentes, como a camisinha masculina e feminina e os testes de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs).
Dossiê
O dossiê sobre o Truvada está sendo finalizado e, em breve a Blanver entrará com o pedido de seu registro na Anvisa. Conforme revelou à Agência Brasil o presidente-executivo (CEO) da empresa, Sérgio Frangioni, o medicamento é composto por dois princípios ativos: Entricitabina e Tenofovir. Todas as etapas do processo de desenvolvimento da droga já foram cumpridas, incluindo a formulação, iniciada em 2012, a estabilidade do produto e a fase de bioequivalência, quando o genérico é comparado com o produto de referência e tem sua eficácia comprovada.
A pessoa que o tomar todos os dias corre um risco muito menor de ser infectado por alguém com o vírus durante uma relação sexual, por exemplo. Frangioni ressaltou que o Truvada não tem disponibilidade no mercado nacional, o que justifica sua atual importação. E acrescentou que a prevenção “é para indivíduo que não foi exposto”, afirmando que “o Ministério da Saúde fornece os medicamentos para tratamento, não para prevenção pré-exposição. Ele só fornece para prevenção pós-exposição”, sendo o antirretroviral Tenofovir para pessoas com o HIV.
Foco no grupo de risco
O genérico do Truvada tem como foco as pessoas que compõem o grupo de risco, além de profissionais do sexo, a fim de evitar o crescimento do número de indivíduos que precisarão de tratamento pelo resto da vida.
“É melhor você prevenir pontualmente do que contrair o vírus e ter de tomar remédio pelo resto da vida. Isso se demonstrou bastante eficaz porque, infelizmente, hoje tem muita gente que não faz sexo seguro e imagina que o tratamento resolverá. A pessoa prefere o risco de pegar a doença, sabendo que tem um tratamento, mas não sabe as consequências no longo prazo. A ideia é dar essa ferramenta a mais para os desavisados se conscientizarem”, alertou o presidente-executivo da Blanver.