Medicina e Saúde

Retrospectiva da Saúde 2020 – Parte 2

A Retrospectiva da Saúde 2020 concentra-se na pandemia do Coronavírus. Não apenas pela ameaça que representa por ainda ser algo desconhecido, mas também por seus efeitos catastróficos em todos os setores da sociedade.

As tragédias diárias se repetiram em todos os pontos do planeta. Além de disseminarem o medo e o pânico, também levantaram polêmicas e suspeitas, dúvidas e teorias conspiratórias.

Entretanto, ao desafiar a Medicina e a Ciência, o Coronavírus revelou ao mundo o lado heroico de profissionais da Saúde lutando incansavelmente para salvar vidas.

ProDoctor Software traz neste post a parte final da Retrospectiva da Saúde 2020. Acompanhe os seis últimos meses de um ano que só terminará no calendário, uma vez que suas tristes lembranças permanecerão para sempre.


Confira a primeira parte da Retrospectiva da Saúde


Retrospectiva da Saúde 2020 e a guerra das vacinas em Julho

A Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) revelou que, no dia 8, durante a 23ª Conferência Internacional de Aids, o estudo clínico internacional HPTN 083 comprovou que a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV obteve eficácia superior ao Truvada na prevenção da infecção pelo vírus. A PrEP com CAB-LA, contendo Cabotegravir injetável de ação prolongada (utilizado a cada oito semanas) foi considerada uma conquista sem precedentes para o campo da prevenção do HIV.

A guerra das vacinas contra o Coronavírus estava em pleno vapor. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), até o dia 21, 166 candidatas estavam em desenvolvimento, sendo 24 registradas em fase clínica, ou seja, testadas em humanos.

Além disso, cinco encontravam-se um passo à frente, em sua terceira e última fase de estudo. Três são da China: Sinovac, Instituto Biológico de Wuhan/Sinopharm e Instituto Biológico de Pequim/Sinopharm.

A britânica Oxford/AstraZeneca é considerada em estágio mais avançado, sendo testada em 50 mil pessoas, inclusive no Brasil. Por fim, a americana Moderna/NIAID, que ainda não havia começado a recrutar voluntários. Somente após a terceira e última fase de estudos, com um número maior de participantes, que uma vacina pode ser – ou não – licenciada e liberada para comercialização.


Entenda as 3 fases da vacina


Agosto

Em agosto, o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) passou a fornecer o medicamento trastuzumabe. Assim, o Ministério da Saúde (MS) o disponibiliza de forma gratuita no Sistema Único de Saúde (SUS) para o combate ao câncer de mama. A droga é um anticorpo monoclonal indicado para o tratamento de subtipo de câncer de mama identificado pela superexpressão do gene HER2.

Com isso, o trastuzumabe é mais um medicamento oncológico fornecido por Bio-Manguinhos/Fiocruz, que introduziu esta linha em seu portfólio neste ano, juntamente com o rituximabe para o tratamento de linfomas não-Hodgkin – linfoma de grandes células B e linfoma folicular, além de artrite reumatoide.

Enquanto isso, no dia a OMS anunciou que 172 países e múltiplas vacinas candidatas estão envolvidos em mecanismo de acesso global à vacina contra o Coronavírus. A aliança COVAX é uma iniciativa global criada com o intuito de trabalhar com fabricantes de vacinas para fornecer aos países em todo o mundo o acesso equitativo a vacinas seguras e eficazes assim que licenciadas e aprovadas.

“O acesso equitativo a uma vacina contra a Covid-19 é a chave para vencer o vírus e preparar o caminho para a recuperação da pandemia”, declarou Stefan Löfven, primeiro-ministro da Suécia.

Setembro

Ao aprovar o imunomodulador P-MAPA, pela primeira vez, a Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) concedeu o status de “orphan drug” para um medicamento desenvolvido totalmente no Brasil. O fármaco, destinado ao tratamento da esquistossomose, foi desenvolvido pela Fiocruz Pernambuco.

O P-MAPA é a sigla para anidrido polimérico de fosfolinoleato de magnésio e amônio e proteína, denominação química de um biopolímero produzido por fermentação pelo fungo Aspergillus oryzae.

Por outro lado, um projeto da Fiocruz Ceará foi aprovado no Programa Centelha, que tem como objetivo estimular a criação de empreendimentos inovadores e disseminar a cultura empreendedora no Brasil.

O desenvolvimento de um software aplicado à realidade virtual destina-se aos pacientes em reabilitação pós Acidente Vascular Cerebral (AVC), com o propósito de aumentar a neuroplasticidade e ser mais efetivo no processo de neuroreabilitação.

Conforme seus desenvolvedores, o objetivo é usar a realidade virtual como alternativa à terapia por espelho. Dessa maneira, poderá possibilitar maior imersão do paciente. A técnica potencializa a percepção do cérebro da existência de um membro sadio no lugar do afetado pela paralisia.

Nobel da Medicina em Outubro

A descoberta do vírus da hepatite C traz esperanças de cura para a cirrose e o câncer no fígado. No dia 5, os autores da descoberta foram agraciados com o Prêmio Nobel de Medicina 2020: Harvey J. Alter, Michael Houghton e Charles M. Rice.

O trabalho desenvolvido pelos cientistas revelou a causa dos demais casos de hepatite crônica. Dessa maneira, “tornou possíveis os testes de sangue e novos medicamentos que têm salvado milhões de vidas”, destacou em seu anúncio a Assembleia Nobel. no Instituto Karolinska (Suécia).

Conforme declarou o secretário da instituição, Thomas Perlmann, “pela primeira vez na história, a doença agora pode ser curada, dando esperança de erradicar o vírus da hepatite C na população mundial”.

Enquanto isso, a corrida pelo desenvolvimento de vacina contra o Coronavírus aumentou para cerca de 200 candidatas em todo o planeta. Confira a proveniência e o estágio.

Em Novembro…

No dia 5, o Diário Oficial da União publicou a Resolução Nº 3972, concedendo ao Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) o registro do genérico clone do Dolutegravir sódico (DTG). O medicamento foi submetido à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em agosto.

Com isso, o antirretroviral será desenvolvido através da Aliança Estratégica, uma transferência de tecnologia firmada no mês anterior com as farmacêuticas ViiV Healthcare e GSK. Serão fornecidas as seguintes drogas: Dolutegravir 50mg, Lamivudina 300mg e Dolutegravir50 mg + Lamivudina 300mg.

Por outro lado, a renomada revista científica “Lancet” divulgou, no dia 17, que a CoronaVac é segura e produz anticorpos em 97% dos voluntários. Conforme avaliação do Instituto Butantan, que desenvolve a vacina em parceria com o laboratório chinês Sinovac, a revisão feita por outros cientistas é um passo importante no desenvolvimento do medicamento.

Retrospectiva da Saúde 2020 termina com perspectiva otimista em Dezembro

O Reino Unido foi o primeiro país da Europa a iniciar, no dia 8, a aplicação em massa da vacina da Pfizer/BioNTech contra o Coronavírus. Margaret Keenan, uma senhora de 90 anos, recebeu a primeira dose, em um hospital da cidade de Coventry, na região central da Inglaterra.

Foram registrados dois casos de reações alérgicas ao imunizante, mas os pacientes, que tinham histórico de alergias, reagiram e passam bem. No dia seguinte, a agência regulatória do país alertou que pessoas com “histórico de reação alérgica significativa” a vacinas, remédios ou alimentos não devem tomar o medicamento.

Há 10 meses, as previsões eram pessimistas e a advertência era de que o desenvolvimento de uma vacina poderia demorar anos. Contudo, vários países já começaram seus programas de vacinação e há uma corrida bilionária em marcha.

Como resultado, analistas de investimentos preveem o sucesso financeiro de pelo menos duas delas: Moderna (EUA) e a alemã Pfizer/BioNTech (EUA/Alemanha). Confira o que as farmacêuticas ganham com isto.

E no Brasil?

Depois de muitas idas e vindas, com a politização das vacinas, no dia 16, o Governo finalmente começou a elaborar o plano de vacinação no Brasil. Entretanto, não especificou qual será a droga a ser usada, uma vez que não fechou contrato com nenhuma farmacêutica. Conforme o Governo divulgou, há negociações encaminhadas que totalizam cerca de 350 milhões de doses.

Um dia depois, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse que o Brasil receberá 93,4 milhões de doses até março, fornecidas pela AstraZeneca, Instituto Butantan e Pfizer.

Enquanto isso, a presidente da União Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou que os 27 países do grupo começarão a vacinar sua população contra a Covid-19 no dia 27 de dezembro. Segundo ela, “é o momento da Europa. Em 27, 28 e 29 de dezembro, a vacinação terá início em toda a União Europeia”.

Por outro lado, a Covax (iniciativa dirigida pela aliança de vacinas Gavi e pela Organização Mundial da Saúde) revelou que disponibilizará 2 bilhões de doses de vacina para 190 países no 1º semestre de 2021.

Esta aliança tem como objetivo garantir vacinas contra Covid-19 para as pessoas mais vulneráveis do planeta. Ou seja, de baixa e média renda. O Brasil encomendou 42,5 milhões de doses.

Seguem as mortes

No dia 19, o Brasil registrou a maior média móvel de casos confirmados de Covid-19 desde o início da pandemia. Foram registrados 47.439 diagnósticos diários, em média, nos últimos sete dias, conforme levantamento das secretarias estaduais de Saúde consolidado pelo consórcio de veículos de imprensa.

Assim, acumulou 186.365 mortes e 7.212.670 casos de Covid-19 e a média móvel de mortes alcançou uma alta de 27%.   
Em casos confirmados, 7.212.670 brasileiros tiveram ou têm o novo Coronavírus, com 48.758 desses confirmados no último dia.

Suíça autoriza vacina

Por outro lado, a Suíça autorizou a vacina da Pfizer/BioNTech. Desde o início da epidemia, o país teve 403 mil casos confirmados, com 6.561 mortes. O Governo suíço garantiu o acesso a 15,8 milhões de doses de vacinas, negociadas com a PfizerBioNTech (três milhões), com a Moderna (7,5 milhões) e com a AstraZeneca (5,3 milhões). São necessárias duas doses por paciente para as três vacinas.

Ao mesmo tempo, os Estados Unidos anunciaram o início da distribuição da Moderna. O imunizante foi o segundo a ser aprovado no país, no sábado (19), uma semana depois de a primeira vacina (Pfizer) receber aprovação.

No domingo, 20, o ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, afirmou que a nova cepa do Coronavírus estava “fora de controle”, para justificar o confinamento de Londres e parte da Inglaterra. Ele advertiu que essas medidas podem continuar em vigor até que a vacinação tenha se generalizado.

Nova variante do Coronavírus

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, declarou na segunda-feira (21) que ainda não existem evidências de que uma nova variante aumente a gravidade da Covid-19. Conforme a entidade, todos os vírus passam por mutações, mas os cientistas estão estudando a nova variante para determinar se ela provoca alterações no comportamento do Covid-19.

Tedros Ghebreyesus afirmou que “o Reino Unido relatou que esta nova variante é transmitida com mais facilidade, mas não há evidências até o momento de que seja mais provável que cause doença grave ou mortalidade”.

Ações rápidas

Também na segunda-feira, a agência de regulação de produtos médicos da Europa (EMA, na sigla em inglês) aprovou a utilização da vacina contra o Coronavírus desenvolvida em conjunto pela Pfizer/BioNTech. A presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, afirmou que eles vão agir rapidamente.

Na corrida contra a Covid-19, a farmacêutica AstraZeneca e o Instituto Gamaleya (Russia), que desenvolveu a Sputnik V, assinaram um acordo para testar uma combinação dos imunizantes. Conforme o comunicado emitido depois do pacto, “os ensaios começarão em breve”.

Anteriormente, no dia 11, a AstraZeneca tinha anunciado a possibilidade de combinar as duas vacinas. O comunicado foi feito logo depois que os próprios desenvolvedores da Sputnik V sugeriram, via Twitter, que a AstraZeneca tentasse a combinação para aumentar a eficácia da vacina.

É importante destacar que os cientistas russos ainda não publicaram dados da eficácia de seu imunizante em revista científica. Por outro lado, Oxford e a AstraZeneca já o fizeram.

No momento, as vacinas que estão sendo utilizadas são: Pfizer/BioNTech, Moderna, Sputnik V, Sinovac e Sinopharm. Confira os países que iniciaram a imunização de suas populações. Até o momento do fechamento desta Retrospectiva da Saúde em 2020, mais de 2,3 milhões de pessoas de seis países foram vacinadas em 2020 com doses de imunizantes aprovados para uso emergencial ou definitivo.

Este monitoramento é realizado pela Universidade de Oxford, podendo ser acompanhado no portal Our World in Data. Os seis países são: China, Rússia, Reino Unido, Estados Unidos, Canadá e Israel.