Medicina e Saúde

Cuidados Paliativos em tempos de Coronavírus

A pandemia provocada pelo Coronavírus não só aumentou a demanda das equipes médicas de Cuidados Paliativos, bem como tem transformado suas vidas, uma vez que é uma doença que prossegue sob muitas interrogações.

Nesses meses de dura realidade, os Cuidados Paliativos ganharam maior dimensão, já que a ameaça à vida dos pacientes tem obrigado seus profissionais a se desdobrarem para proporcionar melhor qualidade de vida a cada um. Além disso, também se dedicam a estabelecer o contato entre os pacientes com seus familiares e amigos.

Neste post, você saberá um pouco mais sobre o que são os Cuidados Paliativos, podendo perceber a carga de humanidade que envolve o trabalho de médicos, enfermeiras e psicólogos, dentre outros. Confira:

  • O que são Cuidados Paliativos
  • Trabalho multidisciplinar
  • Como são realizados os Cuidados Paliativos
  • Drama diário nos hospitais
  • Cuidados Paliativos para familiares e amigos
  • Tecnologia une “Covidários” às familias
  • O psicólogo do adeus
  • Fim do luto antecipado

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O que são Cuidados Paliativos

Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), os Cuidados Paliativos abrangem toda a assistência necessária e disponível oferecida para todo paciente que esteja fora das possibilidades terapêuticas.

Dessa maneira, uma doença que ameace a vida, como por exemplo, provocada pelo Coronavírus, requer um trabalho especial, que proporcione melhor qualidade de vida através da prevenção e alívio do sofrimento imposto pela enfermidade.

Também conhecidos como cuidados de conforto, cuidados de suporte e gerenciamento de sintomas, os Cuidados Paliativos se referem à assistência integral oferecida para pacientes e familiares diante de uma doença grave que ameace a continuidade da vida.

Trabalho multidisciplinar

Além do trabalho protagonista dos médicos, o trabalho multidisciplinar tem sido fundamental nestes tempos de Coronavírus. A equipe de Enfermagem está integrada neste processo, visando reduzir o sofrimento e promover conforto e dignidade humana.

Dessa maneira, ao lado dos psicólogos, os enfermeiros interagem com os pacientes, seus familiares e amigos. O objetivo é atender as necessidades humanas básicas, quer sejam de ordem física, quer sejam de ordem emocional, espiritual e social.

Rudval Souza da Silva, enfermeiro e membro do Comitê de Enfermagem da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), afirma que “os enfermeiros demonstram um compromisso com os Cuidados Paliativos em prol de um cuidar que tem a qualidade de vida como o principal objetivo, numa perspectiva de promover meios para oferecer mais vidas aos anos, ao invés de anos a vida”.

Confira detalhes sobre o trabalho da Enfermagem em Cuidados Paliativos.

Como são realizados os Cuidados Paliativos

Os Cuidados Paliativos têm como foco de atuação atender as necessidades do paciente e de sua família. Desse modo, os profissionais avaliam e tratam os sintomas físicos de desconforto, como por exemplo, dor, fadiga, cansaço, falta de ar e náusea. Ou seja, tudo que possa causar sofrimento e piora da qualidade de vida do enfermo.

Além disso, os integrantes do Cuidados Paliativos estão aptos a ir além da dimensão física, podendo avaliar e cuidar das necessidades emocionais, sociais, familiares e espirituais do paciente e de sua família.

Médicos especializados, enfermeira e psicóloga compõem o Núcleo de Cuidados Paliativos do Hospital Sírio-Libanês, uma equipe fixa que trabalha com o apoio de outros profissionais. Por exemplo: nutricionistas, fisioterapeutas, farmacêuticos, assistentes sociais e voluntários. Todos eles, devidamente treinados e capacitados para atender os pacientes conforme as técnicas dos Cuidados Paliativos.

No Hospital Sírio-Libanês (HSL), pela solicitação do médico que acompanha o paciente, do próprio paciente ou de seus familiares, é feita uma primeira visita para esclarecer dúvidas sobre o tratamento com cuidados paliativos. Conforme o site do HSL, “todo o processo é realizado em alinhamento com as preferências e valores do paciente. A partir daí, a equipe recomenda as melhores interações para cada caso. Cada paciente é avaliado e tratado de forma individualizada. As melhores opções de abordagem são definidas caso a caso”.

Drama diário nos hospitais

Pelos hospitais de todo o planeta, cenas dramáticas se repetem, com o aumento maciço do número de internações e a falta de leitos nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Além disso, também faltam respiradores, medicamentos, cilindros de oxigênio.

Mesmo utilizando luvas, máscaras e equipamentos de proteção, as equipes médicas também estão sujeitas à contaminação, além do estresse emocional diante do isolamento de um médico ou de uma enfermeira, por exemplo.

A perda de um paciente que tenha chamado mais atenção também é um chamado à tristeza, reforçando assim a permanente ameaça do burnout. Neste caso, os psicólogos da equipe de Cuidados Paliativos entram em ação para não permitir que enfraqueçam e possam continuar sua missão.

Confira reportagem da BBC NEWS sobre os momentos dramáticos vividos pelas equipes médicas de cuidados críticos, como na hora de desligar um respirador para um paciente gravemente doente.

Cuidados Paliativos para familiares e amigos

Médicos, enfermeiras e psicólogos atuam em consonância, a fim de proporcionar não apenas ao paciente, mas também aos familiares e amigos a certeza de que o conforto e a qualidade de vida serão dados a cada um até o desenlace.

Assim, a garantia de que o paciente não vai morrer sozinho e desamparado é um conforto para todas as almas aflitas e em desespero com a perda iminente de um ente querido.

A imposição de isolamento dos pacientes nos chamados “Covidários” levou hospitais de ponta do Brasil a recorrer à tecnologia. Dessa maneira, vários adotaram videochamadas com familiares, utilizando, por exemplo, smartphones, tablets e até robôs.

Poucos hospitais públicos podem adotar a medida. Assim, a falta de comunicação prevalece e são dramáticos os depoimentos de famílias que perdem totalmente o contato com o doente desde a internação. Muitos parentes e amigos sequer conseguem se despedir no momento do desenlace.

Tecnologia une “Covidários” às famílias

Em Belo Horizonte, professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) buscaram inspiração no projeto italiano “Direito de dizer adeus” e promoveram a doação de tablets. O foco das doações são hospitais públicos do Brasil inteiro, a fim de estabelecer uma conexão dos pacientes dos “Covidários” aos familiares e amigos em casa. 

Todavia, em muitas instituições, ainda prevalece a falta de comunicação. Há relatos dramáticos de famílias que perdem totalmente o contato com o doente na internação. Nem sequer conseguem se despedir na hora da morte.

O psicólogo do adeus

Em meio ao cenário de guerra, heróis são forjados. Inegavelmente, o psicólogo hospitalar Henrique Redman é um deles. Além de seu trabalho diário no Hospital e Pronto-socorro 28 de Agosto, um dos maiores de Manaus (AM), que está com três dos seus cinco andares ocupados por pacientes do Coronavírus, humanidade e solidariedade carimbam sua trajetória profissional.

Uma vez que os “Covidários” não podem receber visitas, ele colocou em prática um projeto que permite, através de videochamada, se comunicar com sua família. Nesse sentido, pode representar a despedida. Além disso, o psicólogo ainda retira dinheiro do próprio bolso, uma vez que para ele é desesperador aguardar a chegada de recursos essenciais.

Veja como proceder para implantar a Telemedicina.

Fim do luto antecipado

Com toda a certeza, o Coronavírus está colocando a Humanidade diante de um novo desafio. Ou seja, as pessoas sequer podem se preparar para a perda do ente querido, como seria, por exemplo, no caso de um câncer terminal. Até aqui, era possível se preparar para a perda inevitável.

Entretanto, o Coronavírus retirou esta possibilidade de se despedir do familiar ou amigo. Dessa maneira, passar pelo luto individual sem vivenciar suas fases é um desafio novo para as pessoas. Com toda a certeza, os rituais de despedida, tão essenciais para quem fica, estão comprometidos.

Confira a entrevista da médica Sabrina Correa para a Rádio CBN sobre os ritos de despedida familiares.

Resumo

As equipes dos Cuidados Paliativos têm trabalhado incansavelmente nestes tempos de Coronavírus. Não só os médicos e as enfermeiras, mas também psicólogos, nutricionistas, farmacêuticos fisioterapeutas e fonoaudiólogos. Incansáveis, todos procuram não apenas estabelecer uma ponte entre os “Covidários” e seus familiares e amigos, bem como também proporcionar um apoio especial para todos da equipe médica e funcionários dos hospitais que estejam à beira de sucumbir.

Os Cuidados Paliativos são essenciais na manutenção do estado emocional e na motivação, principalmente, de médicos e enfermeiros. Com seu trabalho, procuram renovar as forças de cada um durante sua extenuante jornada.