A Retrospectiva da Saúde 2021 traz como primeira e mais triste lembrança o fato de o sistema de Saúde do Brasil ter entrado em colapso. Rapidamente, o País começou a bater recordes no número de mortes e de infectados pelo vírus da Covid-19. Diversos fatores contribuíram para isso, como por exemplo, a demora na tomada de decisões por parte do Ministério da Saúde.
Além disso, a negligência governamental e a divulgação em massa de fake news colaboraram para o agravamento da situação, com questionamentos acerca dos efeitos das vacinas, da necessidade do uso de máscaras e do uso das máscaras. Por fim, mesmo com o início da vacinação, verificou-se o despreparo com relação à estratégia de aplicação e combate à pandemia.
Enquanto isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) não apenas reforçou a exigência de se cumprir os rituais de proteção, como também manifestou sua preocupação com a necessidade de se fazer uma distribuição justa e igualitárias das vacinas em todo o mundo. Uma polêmica que perdura até hoje.
A seguir, em seu Blog, a ProDoctor Software relembra, em sua Parte 1, os principais fatos sobre a Saúde em 2021. Conforme você verá a seguir, amplamente dominado pelas notícias sobre o Coronavírus.
Nossa Retrospectiva da Saúde em 2021 começa no dia 08, quando o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Ghebreyesus, afirmou que a agência e seus parceiros da Covax estavam prontos para distribuir vacinas contra a Covid-19 assim que fossem entregues. Foram finalizados contratos para a compra de 2 bilhões de doses da imunização.
Ao mesmo tempo, as vacinas continuavam sendo desenvolvidas e aprovadas, com 42 países administrando imunizantes, sendo 36 de alta renda e seis de renda média. Na ocasião, Tedros declarou que “este é um problema que se pode e deve resolver através da Covax e do Acelerador ACT.”
No início da pandemia, os países ricos compraram a maior parte do suprimento de várias vacinas. Agora, países de rendas alta e média, que integram a Covax, estão fazendo o mesmo. Para ele, “o nacionalismo de vacinas é autodestrutivo”, acentuando que que as pessoas de alto risco nos países mais pobres e marginalizados não recebem a vacina.”
Assim, o chefe da OMS fez dois pedidos. Primeiramente, aos países que compraram mais vacinas do que precisam, que doassem as doses em excesso. Já para os fabricantes, solicitou que deixassem de fazer negócios diretamente com os países em detrimento da Covax.
No dia 14, a OMS e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) chamaram atenção para o fato de que, em todo o planeta, cerca de 1,8 bilhão de pessoas estão sob maior risco de se contaminarem com o novo coronavírus que em qualquer outra parte do globo. A razão é a falta d’água em instalações de saúde utilizadas por elas.
Os serviços de água, saneamento básico e higiene são fundamentais para vencer a Covid-19. Os dados foram retirados do Relatório Global sobre Instalações de Saúde WASH, sigla em inglês para Água, Saneamento e Higiene, feito em 165 países com base em pesquisas de 760 mil instalações de saúde.
O problema é evidenciado pelos riscos de contaminação nesses locais e a falta de prevenção e controle adequados da pandemia. Principalmente, nos países menos desenvolvidos.
No Brasil, a Retrospectiva da Saúde 2021 relembra os dramáticos dias 14 e 15 em Manaus, capital do Amazonas, quando se registraram os momentos mais dramáticos e tristes da Covid-19. O Brasil estampou as manchetes dos principais jornais do mundo. O elevado número de pacientes com quadro grave da doença fez com que o suprimento de oxigênio em Manaus fosse insuficiente para atender a demanda. Com isso, dezenas de pacientes morreram sufocados, deixando como símbolo a falta de estratégia das autoridades brasileiras desde o início da pandemia.
A crise na capital amazonense provocou graves consequências para quem precisava de atendimento médico no resto do estado. Naquele momento, era a única cidade com Unidades de Terapia Intensiva, obrigando pacientes em estado grave serem transferidos para lá de avião. Todavia, com o colapso do sistema hospitalar em meio à escassez de oxigênio, não havia leitos disponíveis para as transferências.
Mesmo com os desafios criados pela Covid-19, o avanço contra a hepatite C tem impressionado especialistas. O diagnóstico precoce é uma das causas no avanço da luta contra a doença. Entretanto, ainda está longe de atingir níveis de cobertura que levem à eliminação da doença, como previsto em um objetivo global até 2030.
A OMS revelou que mais de 120 países já adotaram a Estratégia Nacional contra a Hepatite Viral para combater a doença. O planejamento começou em 2016 e termina este ano. Os avanços ocorreram em países de rendas média e baixa com alguns alcançando aumento de 20 vezes no número de pessoas tratadas com antirretrovirais entre 2015 e 2018. Após Estratégia Nacional, os testes passaram a custar de US$ 1 a US$ 8 por paciente.
Com a iniciativa, muitos países de rendas baixa e média conseguiram reduzir as taxas de hepatite C com diagnósticos de qualidade e tratamento antirretroviral com os medicamentos genéricos sofosbuvir e daclastavir. Existem mais de 325 milhões de pessoas com os tipos B e C da hepatite. Ambos matam, pelo menos, 1,3 milhão de pacientes por ano em todo o mundo.
A Retrospectiva da Saúde em 2021 abre o mês de fevereiro com a Organização Mundial da Saúde anunciando um plano de 10 anos com o intuito de acabar com as doenças tropicais negligenciadas. Denominado “Acabando com a Negligência para Alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, o documento propõe metas ambiciosas com aspectos inovadores para combater 20 doenças que afetam mais de 1 bilhão de pessoas pobres em áreas com escassez de água potável, saneamento básico e serviços de saúde.
Conforme a agência da ONU, a ação pretende reduzir a dengue, a leishmaniose e outras enfermidades em até 75%. Nesse sentido, todas as ações e programas deverão ser acelerados até 2030. Para tanto, será necessário mudar com urgência a abordagem atual, injetando nova energia na prevenção e tratamento. A exigência é de que se busque resultados concretos.
Por outro lado, a OMS revelou que o número global de novos casos de Covid-19 caiu pela terceira semana consecutiva. O diretor-geral, Tedros Ghebreyesus, disse que “ainda existem muitos países com um número crescente de casos, mas em nível global, esta é uma notícia animadora”. Para ele, os dados mostram que “o vírus pode ser controlado, mesmo com as novas variantes em circulação”.
Entretanto, pediu precaução, destacando que essa situação já acontecera no ano passado. Ele lembrou que em alguns momentos, em quase todos os países, os casos diminuíram e os governos abriram muito rapidamente, permitindo que o vírus voltasse.
No dia 19, a OMS lançou o Plano Estratégico de Preparação e Resposta para a pandemia de Covid-19. O Plano tem seis objetivos, dentre eles suprimir a transmissão, reduzir a exposição e combater a desinformação. Para isso, o organismo necessita de US$ 1,96 bilhão para cumprir seus objetivos, incluindo US 1,2 bilhão para o Acelerador ACT, que investe no desenvolvimento de vacinas, testes e tratamentos para o vírus.
No dia 25, a diretora-geral da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa Etienne, demonstrou preocupação e ressaltou a importância de não se baixar a guarda na luta contra a Covid-19. Conforme declarou, a redução de 30% no nível de novas infecções se deve a menos notificações e mais imunizações nos Estados Unidos e outras partes da América do Norte.
Braço da OMS nas Américas, a OPAS alertou a população para continuar mantendo todas as medidas de prevenção, mesmo com o início da vacinação e a queda de casos em alguns países da região.
Nossa Retrospectiva da Saúde em 2021 relembra Março com uma questão que rendeu muita polêmica. E a hidroxicloroquina? Finalmente, após vários testes, um painel de especialistas do Grupo de Desenvolvimento de Diretrizes da OMS afirmou que o medicamento anti-inflamatório não deve ser usado para prevenir a infecção, evitando a Covid.
Segundo o painel, a hidroxicloroquina não teve efeito significativo algum sobre os níveis de morte e admissão no hospital. Foram analisados seis ensaios clínicos com mais de 6 mil participantes. Conforme os especialistas, a pesquisa deve se concentrar em outras possibilidades mais promissoras
O primeiro Relatório Mundial sobre Audição lançado pela Organização Mundial da Saúde, divulgado no dia 02, revelou que um quarto da população global, cerca de 2,5 bilhões de pessoas, podem sofrer algum grau de perda auditiva até 2050.
O estudo, divulgado um dia antes do Dia Mundial da Audição, defende a expansão do acesso a serviços de saúde auditiva.
Veja também: Médica explica como pessoas com perda de audição foram impactadas na pandemia.
A Retrospectiva da Saúde 2021 destacou o preconceito existente com os idosos. Nesse sentido, a Organização das Nações Unidas (ONU) advertiu sobre o impacto do preconceito à Terceira Idade em instituições e sistemas jurídico, social e de saúde. O estudo revelou que o preço da discriminação aos idosos é alto, com perdas de dezenas de bilhões de dólares.
Estima-se que, a cada segundo, uma pessoa no mundo sofra preconceito “moderado ou alto” por se encontrar na Terceira Idade. A alta comissária de Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu um combate tenaz ao problema, que classificou de “uma violação fundamental de direitos humanos”. Para ela, “a discriminação a pessoas na Terceira Idade é quase sempre aceita e abrangente em políticas, legislações e instituições.
O agravamento da situação brasileira frente à pandemia no Brasil ficou evidente em março. Só para exemplificar, os hospitais do País estavam com uma ocupação de UTIs de mais de 90%. Além disso, a ocupação dos leitos era mais de 100% no Mato Grosso (104,2%), Mato Grosso do Sul (102%) e Rondônia (100%).
Em outras palavras: nesses estados, os pacientes tinham que esperar para serem internados, ainda que tivessem os sintomas graves da Covid-19.
A gravidade da situação, na realidade, foi construída aos poucos, a partir de dezembro do ano anterior, com as aglomerações verificadas durante as comemorações de Natal e Ano Novo. Além disso, muitas pessoas ignoraram os alertas e preferiram não deixar passar o Carnaval sem ir para as ruas aproveitar os festejos.
Dessa maneira, o resultado não poderia ser outro. Então, em todo o Brasil, ficou evidente o crescimento na quantidade de novas infecções e de mortes, chegando a índices alarmantes. O País voltou a ser o epicentro global da pandemia, conforme já ocorrera em maio do ano anterior, embora tenha tido tempo para se preparar para a chegada do Coronavírus.
Desse modo, cresceu a disseminação da variante brasileira P.1. Descoberta em Manaus, ela é mais transmissível do que o novo coronavírus original e as mutações anteriores.
Com todos esses fatores, mais a baixa adesão ao distanciamento social, no dia 17, o Brasil alcançou um recorde de novos infectados em 24 horas. Naquela quarta-feira, 90.830 pacientes foram diagnosticados com Covid-19 em um único dia, o maior número diário desde o início da pandemia. Ao mesmo tempo, mais um recorde negativo foi registrado, com 3.149 mortes pela doença.
Embora a vacinação em massa fosse recomendada por muitos naquele momento, a impressão que se tinha é que parecia uma realidade muito distante no Brasil. “Não sabemos quando e se isso vai acontecer”, disse naquela ocasião Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Confira detalhes sobre o colapso do sistema de Saúde no Brasil.
Uma lembrança bem negativa marcou a Retrospectiva da Saúde em 2021. Para acentuar ainda mais o drama da Covid, no dia 23, o Brasil foi para as manchetes dos três principais jornais dos Estados Unidos, país que liderava o perverso ranking global de mortes diárias por coronavírus até o início de março, quando foi ultrapassado pelo Brasil. Naquela sexta-feira, o colapso no sistema de Saúde levou ao registro de mais 3.650 mortes.
“The New York Times”, “The Wall Street Journal” e “The Washington Post”, mais agência Associated Press e a revista britânica “The Economist” fizeram um retrato pesado da situação brasileira. Além de mostrar a falência dos hospitais lotados e o avanço da variante descoberta em Manaus, a imprensa internacional apontou as falhas do governo Jair Bolsonaro, a disseminação da desinformação em torno de tratamentos sem eficácia, a exaustão dos profissionais de saúde e a escassez de oxigênio e medicamentos para intubação.
Com o objetivo de marcar o Dia Mundial de Combate à Doença de Chagas, no dia 14, a Organização Mundial da Saúde lançou uma campanha para melhorar testes e cuidados. Hoje, cerca de 10 mil pessoas, por ano, morrem da infecção que afeta entre 6 e 7 milhões no mundo, com maioria dos casos na América Latina. Mesmo assim, a enfermidade tem se espalhado em outras áreas como Estados Unidos, Canadá, Europa, Japão e Austrália.
O Mecanismo Internacional de Compra de Medicamentos (Unitaid) emitiu comunicado destacando que uma das maiores preocupações é com a transmissão vertical, a da mãe para o bebê, devido a diagnóstico e tratamentos tardios. Segundo o diretor de Comunicação do Unitaid, Maurício Cysne, “é uma doença silenciosa, que afeta os mais pobres, os mais vulneráveis e mata lentamente”.
Cerca de 2 milhões de mulheres, em idade fértil, são cronicamente afetadas pela doença, causada pelo protozoário parasita Trypanosoma Cruzi, que é transmitido pelas fezes ou urina de um inseto conhecido como barbeiro..
Quatro países, onde a doença é mais endêmica, foram colocados como alvo principal na campanha: Brasil, Bolívia, Colômbia e Paraguai.
Ainda em abril a Retrospectiva da Saúde relembra que a Organização Mundial da Saúde lançou no dia 14 um novo Pacto Global de Combate ao Diabetes. O objetivo é melhorar ações de prevenção e tratamento. O número de casos quadruplicou nos últimos 40 anos.
Segundo o diretor-geral da agência, Tedros Ghebreyesus, a urgência de ações contra a epidemia nunca foi tão clara. A doença é a única das crônicas cujo risco de morte precoce tem subido. O Pacto Global quer aumentar ações e compromissos para criação de medicamentos baratos, diagnóstico e prevenção.
Dois anos após o lançamento de um programa piloto na África, mais de 650 mil crianças estão imunizadas contra a malária. A vacina RTS,S, a primeira do mundo contra a doença, foi distribuída em quatro doses para crianças de até dois anos.
Durante esse período, o piloto distribuiu 1,7 milhão de doses em Gana, Quênia e Malauí. A primeira imunização desse tipo inovador também oferece proteção adicional contra a doença e testes foram realizados em áreas endêmicas com 60% de pacientes infantis.
Conforme a médica da Organização Mundial da Saúde, Kate O’Brien, o controle global da malária está estagnado. Assim, a proteção da vacina, aliada a outras medidas de combate à doença, tem o potencial de salvar dezenas de milhares de vidas todos os anos.
Segundo ela, “as campanhas atuais de vacinação infantil podem ajudar a levar o imunizante contra a malária a crianças em muitas partes do mundo, onde elas não têm acesso ao inseticida aplicado em mosquiteiros e outras formas de prevenção da infecção”.
Nas últimas duas décadas, a OMS e seus parceiros ajudaram a evitar mais de 7 milhões de mortes por malária e 1,5 bilhão de casos da doença.