Medicina e Saúde

Mulheres que lutaram pela medicina

Comemora-se hoje, o Dia Internacional da Mulher. E para celebrar essa data e finalizar o terceiro e último post da série “Presença das mulheres na medicina”, selecionamos 9 mulheres que entraram para a história ao lutarem pelo direito de exercer a medicina e seguir suas vocações de cuidado ao próximo.

Veja os outros posts também: panorama atual das mulheres da medicina e a presença delas na história através de séculos.

1 – Anna Turan

A médica paraense foi a pioneira em uma profissão tradicionalmente de homens, combatendo a febre espanhola que matou milhares. Ela ainda conseguia fabricar remédios com produtos da floresta. E você talvez nunca tenha ouvido falar em Anna Turan. A desconhecida história da primeira médica paraense.

Nascida em 1862, em Igarapé Miri, no engenho da família. O pai queria que o irmão mais velho fosse médico. Foi ela, contrariando todas as previsões, que realizou o desejo paterno. Como o ensino da Medicina existente desde 1808, não era aberto às mulheres, foi nos Estados Unidos, para onde partiu em 1882 com o pai e a irmã, que se diplomou.

Na volta ao Brasil, na Bahia, teve que passar por mais dois anos de estudos para revalidação do diploma na Bahia. Em 1892, voltou para sua terra natal e depois mudou-se para o Acre. Auto denominava-se “especialista em moléstias das senhoras”, aceitando chamados a qualquer hora do dia ou da noite.

Em 1909, viajou 26 dias no navio “Índio do Brazil”, indo morar na floresta, onde cuidou de doentes de malária e com a febre espanhola, trazida com imigração nordestina na exploração da borracha, se transformando em fabricante de remédios com produtos extraídos da mata. Assim foi médica, enfermeira, parteira e “farmacêutica”. Em 1925, mudou para São Paulo onde morreu em 1940, aos 77 anos de idade, em São Paulo.

2 – Nise da Silveira

Nascida em 1906, Nise da Silveira é considerada a mulher que mudou o tratamento dos doentes mentais no Brasil. Nascida em Maceió (AL), estudou Medicina na Bahia e mudou-se com o marido para o Rio de Janeiro em 1927. Durante a Intentona Comunista, ficou presa durante um ano e quatro meses.

Em sua carreira na Psiquiatria, foi uma árdua lutadora contra as técnicas que considerava agressivas aos pacientes. Ela os incentivou a praticar a arte, como uma maneira de restabelecer os vínculos com a realidade, em um tempo que quem sofria de problemas psiquiátricos era tratado com eletrochoques e medicação exacerbada. Também foi pioneira no uso do carinho aos animais como uma forma de tratar os pacientes.

Pela excelência de seu trabalho, é reconhecida em todo o planeta. Uma de suas frases, constantemente reproduzida na mídia, apregoa: “É necessário se espantar, se indignar e se contagiar, só assim é possível mudar a realidade”. Faleceu em 1999.

3 – Luciana da Fonseca

A primeira médica brasileira a realizar um transplante de coração, nasceu na zona rural de Minas Gerais, em 1968, ano em que o médico Euclydes de Jesus Zerbini realizou o primeiro transplante de coração no Brasil. Três décadas mais tarde, Luciana da Fonseca inscreveu seu nome na Cardiologia, da mesma forma que seu professor e fonte de inspiração, com mais de duas dezenas de cirurgias desse tipo.

Dentre todos, a cirurgiã cardiovascular percebeu discriminação apenas em um, o quarto da lista, que pedira para ser operado por um médico, quando recebeu a informação de que sua vida estaria nas mãos de uma mulher. Embora o paciente tenha dito que a motivação não era esta, ela percebeu o preconceito sexista. Luta contra o preconceito, mas é incisiva ao afirmar que “o mundo dos transplantes permanece majoritariamente masculino no Brasil”. Trabalhando no Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, ressalta ainda que o quadro precisa mudar, principalmente porque as mulheres são maioria nas universidades de Medicina do Brasil.

4 – Agnodice ou Agnodike

Foi a mais antiga mulher da antiga Grécia a ser mencionada pelos gregos. Natural de Atenas, aonde havia proibição legal para mulheres estudarem Medicina. Agnodice disfarçou-se com roupas masculinas para assistir as aulas de Hierófilos, dedicando-se principalmente ao estudo da Obstetrícia e Ginecologia.

Mulheres recusavam-na até que confessasse que era mulher. Quando começou a atuar, com muito sucesso, despertou a inveja de outros, pelos quais foi então intimada no Areópago, sendo acusada de corrupção moral dos pacientes. Ao refutar as acusações, revelou sua condição de mulher, mas foi imediatamente acusada de violar a lei. Então, as mulheres de chefes atenienses, atendidas por ela, responderam por ela e conquistaram a abolição da lei, com as mulheres conquistando autorização para praticar a Medicina e a serem devidamente por esse trabalho.

5 – Elizabeth Blackwell

Apesar de dominarem as práticas de cura desde o início dos tempos, somente nos últimos 150 anos as mulheres conseguiram permissão para seguir o estudo formal da Medicina.

Conforme os arquivos históricos, a primeira mulher a receber formalmente o título de médica foi a britânica Elizabeth Blackwell. Ela entrou na Faculdade de Medicina em 1847 por mero acidente. Como o reitor não conseguia decidir se aceitava ou não uma mulher no curso, colocou o problema para votação. Pois os 150 alunos, todos homens, consideraram a ideia tão absurda que resolveram levar adiante o que chamavam de “piada”. E, de forma unânime, aceitaram Elizabeth como nova colega.

Depois de alguns anos de formada, ela fundou em Nova Iorque a primeira instituição médica exclusivamente dedicada para o sexo feminino, o Colégio Médico das Mulheres.

6 – Dra. Ana Aslan

Cardiologista nascida em Braila, Romênia em 1896, foi uma das maiores especialistas mundiais em Geriatria e Gerontologia. Na década de 60, desenvolveu o Gerovital H-3, medicamento produzido à base de procaína. Ele é capaz de estimular o crescimento de novas células e tornar mais lento o processo de envelhecimento biológico.

Em 1952 participou da criação do Instituto Nacional de Geriatria e Gerontologia em Bucareste (Romênia), que se tornou célebre em todo o mundo. Morreu de pneumonia em São Paulo, em 21/05/1988, aos 91 anos.

7 – James Barry

Não, você não se enganou e nem leu errado. Estamos falando, sim, de uma médica. James Barry foi médico do Exército da Inglaterra e um dos cirurgiões que mais se destacaram na Batalha de Waterloo. Porém, há um detalhe importante a ser observado. Embora tenha vivido a vida adulta como um homem, Barry era na realidade uma mulher e seu nome verdadeiro é Margaret Ann Bulkley. Ela passou a vida fingindo ser homem para dedicar-se à Medicina, cuja prática, naquela época, era proibida para mulheres.

8 – Virginia Apgar

Médica anestesista norte-americana, Virginia Apgar é a responsável pela criação inicial da especialização em Neonatologia, ramo da Pediatria que cuida das crianças recém-nascidas. Sua maior contribuição para a Medicina foi o desenvolvimento do Índice de Apgar, método de avaliação da saúde do bebê logo após o parto. O Índice que leva seu nome reduziu drasticamente a mortalidade infantil em todo o mundo.

9 – YouYou Tu

O prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 2015 foi concedido no dia 5 de novembro aos cientistas William C. Campbell, irlandês, e Satoshi Omura, japonês, por criarem novas terapias para combater doenças causadas por vermes nematódeos. O prêmio também foi dado a YouYou Tu, chinesa, por desenvolver uma nova terapia contra malária.

Tu estudou os compostos derivados de plantas que pudessem atacar os plasmódios causadores da malária. Na época, já se sabia que a erva Artemisia annua às vezes era eficaz contra o parasita. Contudo, os resultados eram inconsistentes e não se sabia bem o motivo. A cientista chinesa foi quem isolou a artemisinina, o princípio ativo da planta, e demonstrou sua eficácia em animais e humanos na década de 1960.

Até 2005, o nome da descobridora da artemisinina não era conhecido da comunidade científica. Tu encontrou a substância ao trabalhar em um programa de pesquisa secreto chinês nas décadas de 1960 e 1970. Sua identidade foi revelada após cientistas vasculharem trocas de correspondências do projeto na época e descobrirem seu nome. Em 2011, em entrevista à revista “New Scientist”, Tu conta que teve de ficar tanto tempo longe da filha para trabalhar em hospitais de campo que uma vez não foi reconhecida por ela quando passou seis meses fora.