Medicamentos e Farmácia

Farmacêuticos se reinventam frente à inovação tecnológica

Uma carreira em constante evolução. Seja pelos desafios da incorporação de novas tecnologias, seja em função da própria ampliação da sua área de atuação, o profissional de farmácia teve que se reinventar.  Ouvimos a opinião de presidentes e coordenadores de diversas entidades ligadas ao setor sobre o papel do farmacêutico nesse cenário de mudanças e as tranformações para a profissão. 

Para o presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP), Marcos Machado, o profissional saiu de trás do balcão e expandiu suas atividades. “Com a expansão da farmácia clínica e das salas de serviços farmacêuticos, ele deixou de lidar apenas com o medicamento e passou a dar atenção à saúde do paciente”, analisa Machado.

É a mesma opinião do CEO da Abrafarma, Sergio Mena Barreto. Segundo ele, o farmacêutico está cada vez próximo do consumidor e posiciona-se como um personagem estratégico na desafiadora tarefa de estimular o acesso à saúde no país. “Trata-se de um especialista que utiliza suas competências a serviço de uma proximidade maior com o paciente, agregando mais valor à sociedade com ações preventivas na detecção de riscos e influenciando hábitos mais saudáveis”, afirma Barreto.

Avanço tecnológico muda a forma de atuação do farmacêutico

Para Cassyano Correr, coordenador do programa de Assistência Farmacêutica Avançada da Abrafarma, o farmacêutico de 2019 é, mais do que nunca, um profissional de saúde especializado no cuidado das pessoas e com foco na adesão ao tratamento. “Ele está redescobrindo seu papel no Brasil, ao mesmo tempo em que as novas tecnologias estão moldando e ampliando seu campo de atuação”, ressalta.

Machado, presidente do CRF-SP, também partilha desse pensamento em referência aos impactos dos avanços tecnológicos. “Temos o exemplo dos testes laboratoriais rápidos (TLR), que têm a capacidade de diagnosticar algumas doenças em apenas 24 horas. Hoje, temos mais de 600 aplicativos em desenvolvimento na área da saúde”, ressalta.

Segundo ele, a grande preocupação e urgência está em como fazer para normatizar e regulamentar o uso destas tecnologias. “Ano passado, a Anvisa informou que criou um departamento específico para acompanhar essas novas tecnologias e que estão buscando ser ágeis na devolução de uma resolução sobre o assunto, mas ainda estamos aguardando”, desabafa. De acordo com Machado, os testes rápidos estão sendo discutidos há mais de três anos. “Precisamos de uma reposta mais rápida, pois o avanço tecnológico, assim como o mercado não esperam. Eles, na verdade, impulsionam o serviço”, afirma.

Já para Marco Fiaschetti, diretor executivo da Associação Nacional dos Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag), a profissão tem tudo para se tornar uma das grandes carreiras do futuro com o advento da farmacogenética e a promessa de tratamentos personalizados de acordo com o mapeamento do DNA. “Junto com a individualização, deve-se ressaltar que a longevidade da população também fortalece a carreira, já que o farmacêutico é fundamental para a saúde do idoso. Somos o único setor capaz de oferecer o tratamento personalizado que é tão importante nessa faixa etária”, ressalta o executivo.

O presidente da Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar), Edison Tamascia, acredita que o mercado só está apto para os profissionais que realmente se preocupam com o que acontece no ambiente da farmácia, sabendo adequar às novas tecnologias contribuindo para a melhoria da saúde pública.

O farmacêutico e a indústria

Nelson Mussolini, presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), entende que o farmacêutico é uma peça fundamental no desenvolvimento da indústria farmacêutica. “Essa relevância não irá mudar nem com a revolução tecnológica ou com as tecnologias que possam ser incorporadas aos nossos processos. Afinal, o discernimento que advém do conhecimento humano não será substituído pelas máquinas. Temos a certeza de que, nos próximos anos, o farmacêutico continuará sendo fundamental para o desenvolvimento de novos fármacos e de novos produtos para a indústria”, ressalta.

Capacitação profissional

A farmácia é uma das dez profissões com as maiores taxas de ocupação do Brasil, ao figurar como a terceira com o maior número de contratações formais em 2018. Segundo Walter da Silva Jorge João, presidente do Conselho Federal de Farmácia (CFF), desde 2012 a entidade vem investindo em iniciativas que resgatam o farmacêutico como protagonista do cuidado à saúde, principalmente a comunitária. “Na medida em que assume a sua autoridade técnica dentro do estabelecimento, ele se torna mais respeitado e, consequentemente, mais necessário à sociedade”, ressalta.

São cerca de 220 mil farmacêuticos inscritos nos Conselhos Regionais e o Brasil detém ¼ de todos os cursos de graduação do mundo. “São colocados 18 mil novos farmacêuticos no mercado por ano e, para respaldar ainda mais a atuação clínica, lançaremos em breve um glossário de termos farmacêuticos em Libras”, afirma. Um grupo de trabalho será constituído por farmacêuticos especialistas, intérpretes e pessoas com surdez, para mapear os sinais já existentes e criar outros, de modo a identificar termos farmacêuticos ainda desconhecidos na língua de sinais.

“Hoje, o farmacêutico não sai da faculdade apenas tendo feito o curso de graduação com conhecimento para atuar em todas as áreas. Ele precisa se especializar principalmente em função da velocidade da informação. O paciente já vai munido com tudo o que pesquisou na internet quando chega à farmácia. O profissional precisa estar atualizado para poder responder de forma satisfatória”, explica Marcos Machado.

De acordo com chefe do departamento de assuntos regulatórios do Sincofarma, Juan Carlos Becerra Ligos, a graduação é, antes de tudo, uma autorização que a sociedade nos dá para cuidar de pessoas. “A dinâmica do varejo farmacêutico exige a introdução de novas formas de servir e atender as necessidades dos pacientes, além da constante adequação das grades curriculares das instituições de ensino, que deve acompanhar essa evolução”, ressalta Ligos.

Segunde o executivo, a farmácia deverá passar de uma simples entregadora de caixinhas ou comercializar produtos de marketing para a indústria, para virar um estabelecimento de monitoramento da saúde das pessoas (como a pressão arterial, glicemia, além de outros serviços). “O farmacêutico deverá transformar estes dados em informações para os próprios pacientes e demais profissionais da saúde; capacitando-os a tomar decisões corretas”, afirma.

Fonte: Panorama Farmacêutico

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