Há mais de 40 anos o relaxante muscular baclofeno é utilizado na luta contra doenças neurológicas como o Mal de Parkinson e a Esclerose Múltipla. Após anos de estudos e experiências, agora o medicamento tem sua eficiência comprovada também para combater o alcoolismo.
Também foram realizadas análises acerca da tolerância e da segurança do tratamento com o baclofeno. Os estudos “Alpadir” e “Bacloville” detectaram efeitos colaterais secundários mais frequentes, incluindo insônia, sonolência ou depressão (44% dos casos, em comparação com 31% dos doentes com placebo, conforme “Bacloville”).
O baclofeno é uma medicação aprovada pelo FDA (Food and Drug Administration) como um relaxante muscular, ou seja, com atividade antiespasmódica. Essa medicação atua como agonista do Receptor GABAB.
Os efeitos do baclofeno na redução da compulsão por álcool podem ser explicados pela sua capacidade de interferir com os substratos neuronais que medeiam as propriedades reforçadoras do etanol. Essa hipótese poderia explicar o rápido efeito do baclofeno na redução do pensamento obsessivo pelo álcool já verificado em algumas pesquisas realizadas com alcoolistas.
O especialista Michel Reynaud, presidente do Fundo de Ações em Vícios, foi o responsável por este estudo, que analisou os efeitos da droga em 320 pacientes com idade entre 18 e 65 anos. Eles foram divididos em dois grupos por sorteio, com 158 recebendo o baclofeno em doses de 180 mg/dia e 162, placebo.
A experiência não apresentou problemas graves, mas é importante destacar que os cientistas tiveram o cuidado de não incluir aqueles pacientes com um quadro mais delicado, como por exemplo o de cirrose avançada, filhos de suicidas e usuários de drogas.
Para Michel Reynaud, o fato de o baclofeno reduzir o consumo de álcool em um caso a cada dois “não é tão ruim”, enfatizando que “esta droga é um plus no arsenal terapêutico” na guerra contra a dependência do álcool.
Contudo, para a abstinência, principal foco das pesquisas, a eficácia do baclofeno não foi superior à do placebo. Segundo o cientista, a explicação está na maior expectativa dos pacientes pela diminuição do consumo de álcool. A queda no consumo observado foi maior no grupo tratado com baclofeno, sendo ainda mais acentuada nos pacientes de alto risco.
As pesquisas do Bacloville foram coordenadas pelo especialista Philippe Jaury, sob o patrocínio da Assistência a Hospitais Públicos de Paris (AP-HP), e confirmaram o “efeito positivo” do baclofeno em altas doses na redução do consumo de álcool após um ano de tratamento. Entre maio de 2012 e junho de 2013 os clínicos gerais acompanharam 320 pacientes entre 18 e 65 anos, sem que fosse feita uma seleção ou uma abstinência anterior.
Aleatoriamente, a experiência foi desenvolvida abrigando pacientes “de todos os tipos, como na vida real, incluindo aqueles que tiveram depressão, viciados ou pacientes que sofrem de cirrose”, conforme destacou o cientista.
Foram comparadas a eficácia e a segurança do medicamento em altas doses com um placebo em pacientes alcoólatras que não foram convidados a parar de beber. Para ele, os resultados confirmam o sucesso do tratamento: a abstinência ou a redução do consumo em 56,8% dos pacientes tratados, contra 36,5% daqueles que receberam o placebo.
Além disso, Philippe Jaury ressaltou a importância da redução do consumo de álcool “em mais de um em cada dois pacientes”. Ele lembrou que os resultados são “excepcionais”, principalmente quando se tem na França a morte de um cidadão a cada 12 minutos em consequência das bebidas alcoólicas.
O Comitê de Farmacovigilância da França ressalta que os efeitos colaterais não devem ser desprezados e os mais comuns são: distúrbios neurológicos (33%), distúrbios psiquiátricos (21%) e distúrbios gastrintestinais (10%). Também é importante lembrar que a dose eficaz é diferente para cada paciente.