As histórias da afinidade do ser humano com os animais de estimação são incontáveis e renderam belos filmes, como o inesquecível “Sempre ao seu lado”, que conta a emocionante ligação afetiva do professor Eisaburo Uyeno com o seu cachorro Hachiko e ilustra muito bem como os bichanos podem influenciar o comportamento humano. No caso de pessoas enfermas, após anos de descrença e obstáculos, os hospitais passaram a admitir que as visitas de cães e gatos, por exemplo, são benéficas para o processo de recuperação de seus donos. Hoje, além das visitas admitidas em hospitais, existem alguns tipos de terapias com animais de eficiência comprovada. Assim, além da mera distração, admite-se que eles podem fazer parte do processo de cura.
Aqui, abordaremos inicialmente a Atividade Assistida por Animais (AAA), que tem como objetivo motivar pacientes e criar uma forma de entretenimento entre os mesmos. O encontro tem uma duração média de uma hora, com a realização de brincadeiras em que os pacientes hospitalizados podem se divertir com seus animais de estimação. A atividade pode ser conduzida tanto pelo dono do animal como por um profissional da Saúde.
No Canadá, a história de Zachary ganhou intensa repercussão depois que sua tia Donna Jenkins driblou a segurança do hospital e levou o cachorro Chase para ver o dono. Zachary, de 25 anos, tratava de um linfoma de Hodgkin e enfrentou o calvário de diversos exames até passar por um transplante de células-tronco agressivo. Pressentia o fim e, então, implorou para que sua tia cometesse a traquinagem. A melhora foi sensível e disseminou comoção quando todos tomaram conhecimento do sucedido.
Zachary sabia que não sobreviveria muito tempo. Mais uma vez, apelou para a tia, rogando-lhe que implementasse um programa dentro de hospitais, a fim de encorajar que os pacientes pudessem ser visitados por seus animais de estimação. Assim nasceu o Zachary’s Paws for Healing, que tem como missão facilitar o contato de pessoas em estágios graves de doença com seus bichinhos favoritos. As visitas são semanais e levam aproximadamente uma hora. Antes dos animais serem conduzidos para a visita aos seus respectivos donos, passam por uma rigorosa limpeza, sendo mantidos longe dos demais pacientes.
A partir de 2014, o Instituto MAPAA (Meio Ambiente e Proteção Animal) implementou o Projeto Cão Amigo, que objetiva oferecer terapia e divertimento com cães para crianças em tratamento contra o câncer. A associação mantenedora da iniciativa acredita no sucesso das atividades, que têm estimulado positivamente as emoções dos enfermos ao trabalhar com o conceito de Pet Terapia. Devidamente treinados, os pacientes vivenciam momentos de descontração e alegria.
Durante as visitas ao Ambulatório Oncológico da Faculdade de Medicina do ABC são utilizados dois cachorros. Tudo começou com Jivago, um cão da raça Golden Retriever, que depois recebeu a companhia da vira-lata Celeste. As visitas acontecem a cada duas semanas e, atualmente, o programa também integra o cronograma de atendimento a crianças com deficiências neurológicas.
Foi o primeiro hospital do Brasil a autorizar a visita de animais de estimação para pacientes internados na unidade.
Em 2005, o psiquiatra Márcio Peter de Souza Leite e a educadora Maria Cecília Branco de Souza Leite, donos de cães da raça Golden Retriever, criaram o Projeto Dr. Cão, que foi integrado à rotina hospitalar do Mandaqui em junho de 2007. Responsável pelo projeto, a cirurgiã Sunao Nishio, uma apaixonada por cães, resolveu abraçar a ideia. Seus cães, Tommy (um vira-lata de três patas), Linda (uma beagle) e Yumi (golden retriever) participam do projeto. Tendo em vista o trabalho de humanização da unidade, a iniciativa logo recebeu elogios e apoio.
A cada quinzena, os pacientes internados recebem a visita dos bichanos e várias pessoas observaram e relataram que durante os encontros existe uma interação que provoca algo semelhante a uma transferência de dor do enfermo para o animal.
Não há distinção e diversos cães participam do projeto, sejam eles da raça labrador, golden retriever, bernese mountain, iog, beagle ou até mesmo vira-lata. Na realidade, o que se leva em conta é que os animais devem ser seguros, aceitar carinho muitas vezes um pouco exagerado por parte das crianças e facilidade para trabalhar em equipe com outros animais.
A exemplo de outros hospitais, há um cuidado especial com os cães antes de entrar no hospital. O banho é acompanhado de shampoo-desinfetante e eles recebem vermífugo uma vez por mês. Devidamente escovados, têm que apresentar a saúde em dia. Para evitar a contaminação de crianças e de pacientes internados, quando entram e saem dos quartos, recebem antissépticos nas patas (clorexidina, utilizado em salas cirúrgicas) e na boca. As consultas com o veterinário são realizadas a cada quatro meses e, na alimentação, recebem o dobro da quantidade de alimento que um cão comum comeria normalmente, por causa do excesso de calorias gastas durante as atividades.