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Medicina e Saúde

Médicos e Burnout: como não cair nesta armadilha

Médicos e Burnout foi um tema recorrente e que ganhou espaço em todas as mídias com a explosão do Novo Coronavírus. Desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou oficialmente a pandemia, em 11 de março de 2020, os médicos passaram a integrar com outros profissionais da Saúde a linha de frente do combate à Covid-19.

O Burnout não atinge apenas os médicos. Entretanto, são eles, e principalmente os mais jovens, que protagonizaram os casos conhecidos como vítimas da “Síndrome do Burnout”. O termo deriva dos estudos desenvolvidos pelo psicólogo alemão Herbert J. Freudenberger (1926-1999), que constatou em si mesmo o mal, no início dos anos 1970.

Em 1974, Freudenberger foi um dos pioneiros na descrição dos sintomas da exaustão profissional. Ele fez uma investigação profunda sobre a questão, até chegar a uma detalhada descrição sobre o Burnout. Nesse sentido, “Burnout: The High Cost of High Achievement What it is and how to survive it”, seu primeiro livro sobre o tema, foi publicado em 1980 e é uma referência para o estudo desse fenômeno.

Consciente e atenta à importância do tema, a ProDoctor Software elaborou este post para que você tenha uma ampla visão sobre o Burnout. Assim, você confere a seguir:

O que é o Burnout

Médicos e Burnout

É preciso um certo cuidado em se fazer uma abordagem reducionista desta psicopatologia, que não se trata, simplesmente, de um estresse profissional. Ser um workaholic, dedicando-se exageradamente às atividades é uma das mais marcantes características da síndrome. Todavia, não a única.

A psicóloga e coordenadora do curso de Psicologia da Uninter, Giseli Cipriano Rodacoski, afirma que “burnout não é estresse. É o que resulta do estresse crônico”. O termo  “burn out“, em inglês, significa “queimar por completo“. Trata-se de uma analogia com o que acontece com a saúde psicológica do paciente, conforme o agravamento da enfermidade. Cada vez mais vai sendo consumido pelo estresse, até chegar ao esgotamento.

O cardiologista Bruno Caramelli, ao abordar o burnout verificado entre médicos residentes, conceituou o termo: “Nome em inglês que descreve uma situação em que há um esgotamento psicológico, emocional e muitas vezes físico, decorrente de uma série de pressões que ocorrem em cima de um determinado indivíduo”.

No vídeo a seguir, produzido em parceria com a Sociedade de Cardiologia do Estado do Estado de São Paulo (Socesp), Caramelli aborda as especificidades do quadro no contexto da realidade médica.

Confira a pesquisa realizada pelo portal Medscape avaliando o Burnout entre as gerações de médicos. E veja, também, a radiografia sobre Estilo de vida e burnout médico no Brasil.

Trabalho excessivo X Tempo de descanso

Também conhecido como Síndrome do Esgotamento Profissional, o Burnout resulta de um período em que a pessoa realiza um trabalho excessivo sem que tenha vivido um espaço de tempo necessário para recuperar suas forças e energia. Então, a fadiga e a exaustão surgem, como resultado da aliança maléfica entre o desgaste físico e os problemas emocionais e psicológicos.

A partir de 1 º de janeiro de2022, a OMS incluiu o Burnout na nova Classificação Internacional de Doenças (CID-11). A enfermidade foi oficializada como Síndrome Ocupacional Crônica, uma vez que é um fenômeno ligado ao trabalho. E recebeu o Código QD85.

Confira o que mudou com a CID-11.

Se acaso for diagnosticado com o Burnout, o médico terá direito a 15 dias de afastamento remunerado. Acima desse período, receberá o benefício previdenciário pago pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) – o auxílio-doença acidentário, que garante a estabilidade provisória. Em outras palavras: não poderá ser dispensado sem justa causa nos 12 meses após o seu retorno.

Burnout, depressão e suicídio

Mesmo com todo o idealismo profissional e todo o glamour que possa existir no imaginário das pessoas, provocado pelo jaleco e o estetoscópio, a carreira médica tem sombras. A saúde do médico merece atenção e ele também precisa estar atento à sua saúde.

O Burnout, a depressão e o suicídio são ameaças que podem crescer no dia a dia. Não só pelas adversidade e dificuldades encontradas para cumprir seu ideal, como também pelo excesso de trabalho, o distanciamento da família e dos amigos e, também, por não relaxar e mergulhar na alegria dos momentos de ócio e lazer. O descuido com a saúde mental pode ser fatal.

É importante destacar que Burnout e Depressão não são a mesma coisa. A depressão envolve mudanças de humor bruscas. Então as tendências depressivas se instalam através da irritabilidade, ansiedade, rigidez e negativismo. Outros sintomas claros são o ceticismo e o desinteresse pela vida.

Veja os alertas em nosso post Saúde do Médico: você também precisa se cuidar.

Médicos e Burnout – sintomas físicos e psicológicos

A “Síndrome do Burnout” se manifesta de forma variada, sendo difícil de diferenciar de outros males. Entretanto é importante ficar atentos para os principais sinais que podem ser detectados:

  • Sintomas físicos: cansaço excessivo, tanto físico quanto mental, insônia, dores de cabeça frequentes ou no abdômen, sudorese, palpitação, pressão alta, alteração nos batimentos cardíacos, dores musculares, crises de asma, tonturas, tremores, alterações no apetite, distúrbios alimentares e problemas digestivos.
  • Sintomas psicológicos: sensação de falta de ar, oscilações de humor, alterações do sono, dificuldade de concentração, irritabilidade, lapsos de memória, ansiedade, depressão, pessimismo e baixa estima, com sensações de incompetência, fracasso, negativismo, cinismo e insegurança.
  • Além disso, do ponto de vista comportamental verificam-se agressividade, isolamento, queda progressiva no interesse profissional e no relacionamento interpessoal.
  • Um sinal evidente de piora da Síndrome de Burnout é quando o paciente não segue o tratamento recomendado. Então, o quadro se agrava, com a total perda de motivação para realizar o seu trabalho, além dos distúrbios gastrointestinais. Desse modo, o passo seguinte pode ser a depressão.

Médicos e Burnout – de olho na saúde mental

Médicos e Burnout

Ao abraçarem a carreira de Medicina, sob o Juramento de Hipócrates, os profissionais fazem do seu trabalho um sacerdócio, com a máxima de jamais abandonar seu paciente. Mas, e quando o médico dá sinais de quem é um paciente em potencial?

Números e pesquisas têm revelado que não apenas o Burnout, como também  a Depressão tem atingido os médicos. De todos os sintomas relacionados com a saúde desses profissionais, são os mais frequentes, sendo que a depressão revela ainda uma alta prevalência da ideia de suicídio.

Além disso, verificam-se problemas como a ansiedade e os transtornos relacionados ao estresse e à utilização de substâncias químicas.

Conforme a American Foundation for Suicide Prevention (Sociedade Americana para a Prevenção do Suicídio), a cada ano, em média, 300 a 400 médicos cometem suicídio em todo o planeta. Entre 2000 e 2009, no Brasil, o suicídio foi a segunda maior causa de óbitos entre os médicos, ficando atrás das vítimas fatais por acidentes automobilísticos.

Além disso, outras estatísticas internacionais advertem que o número de suicídios de médicos é cinco vez mais que a população como um todo.

Pesquisa do Conselho Federal de Medicina sobre Médicos e Burnout

Entre setembro e dezembro de 2020, o Conselho Federal de Medicina (CFM) realizou uma pesquisa com 1.600 profissionais, detectando o crescimento do estresse na categoria. Com o alerta do agravamento dos casos de Depressão e advertindo para o surgimento da “Síndrome do Burnout”.

Nesse sentido, destacou que o Burnout foi registrado em 78,4% dos Residentes Médicos de várias especialidades. A maior incidência foi entre cirurgiões, médicos internos, psiquiatras e oncologistas.

Por outro lado, em 2022, durante junho e julho, o Research Center, centro de pesquisa ligado à Afya, fez um levantamento com 3.489 profissionais sobre a Saúde Mental do Médico 2022. E os resultados não foram nada animadores para a classe médica, ficando evidente o comprometimento de sua saúde.

Os principais indicativos da pesquisa foram:

  • No transcorrer de suas vidas, 69,4% dos médicos já apresentaram sinais de Depressão, sendo que metade dos entrevistados ainda vivem sob essa condição. Ou seja, 7 entre 10 médicos, sendo que 26,8% têm um diagnóstico e outros 23% têm os sintomas sem que façam acompanhamento psicológico.
  •  No caso do Burnout, o cenário é preocupante, uma vez que 62% apresentaram sintomas, sem que 36% desses procurassem atendimento médico e psicológico.

Médicos e Burnout – Efeito Covid-19

O estudo “Adoecimento mental dos médicos na pandemia do COVID-19”, realizado pior uma equipe de médicos e psiquiatras do Brasil e Portugal, colocou em discussão o fato de que “discentes, residentes, docentes e profissionais da Medicina apresentam importantes prevalências de Transtorno Mental Comum, Sintomas Depressivos, Burnout e Suicídio”. Em outras palavras: o adoecimento psíquico dos médicos durante a Covid-19.

Em sua Introdução, diz o estudo:

“A pandemia por COVID-19 exacerbou a angústia existencial em relação a morte. A insegurança e incerteza relacionadas aos limites da ciência, devido à falta de consenso científico sobre essa nova doença, convocam a necessidade de investigar, refletir e revisar as informações sobre problemas de saúde mental vinculados ao trabalho médico, especialmente para os que estão na linha de frente da assistência a pessoas com COVID-19, bem como discutir o estigma relacionado ao sofrimento psíquico desta população, em especial nesta pandemia, e identificar precocemente possíveis adoecimentos psíquicos e facilitar à busca imediata de assistência em saúde mental”.

Médicos e Burnout – A relação médico-paciente

A carga excessiva de trabalho, horas mal dormidas, pressão permanente, angústia, impotência diante da morte de pacientes, estresse, Depressão, Burnout. Tudo isso leva os profissionais da Medicina ao limite da saúde mental. Uma prova de fogo que tem, como resultado, além dos riscos à sua sanidade, interferências na Relação Médico-Paciente.

Em 14 de setembro de 2022, um estudo publicado no “British Medical Journal” revelou que “a probabilidade de médicos com burnout se envolverem em incidentes relacionados à segurança do paciente é duas vezes maior, e quase quatro vezes maior para a insatisfação com o trabalho”.

Empatia é fundamental!

O Burnout médico coloca em prova uma questão fundamental nessa relação: a empatia. Em março deste ano, a Medscape publicou um artigo de Rachel Reiff Ellis, em que se destaca: “A compaixão nasce da capacidade de compreender e partilhar dos sentimentos dos outros, ou seja, do sentimento de empatia. Estudos mostram que a empatia é essencial para a qualidade da assistência à saúde – e não apenas aos pacientes”.

Conforme a escritora e editora freelancer, com amplo trabalho relacionado ao setor de Saúde, “em um estudo sobre índices de empatia entre médicos, 87% afirmaram que a compaixão, ou o desejo claro de aliviar o sofrimento alheio, é o fator mais importante na escolha de um médico”.

Médicos e Burnout – Fases do Processo

Conforme o psicólogo alemão Herbert J. Freudenberger, as fases do processo de Burnout não obedecem, necessariamente, a uma ordem cronológica). A relação criada por um dos pioneiros na descrição dos sintomas da exaustão profissional é a seguinte:

1 – Compulsão para provar-se a si próprio (Ambição excessiva).

2 – Trabalhar duro.

3 – Colocar em segundo plano necessidades pessoais.

4 – Desconsiderar conflitos e necessidades.

5 – Sem tempo para o que não se refere a trabalho.

6 – Negação de problemas, inflexibilidade de pensamento e de comportamento.

7 – Afastamento, falta de direção, cinismo.

8 – Mudanças de comportamento, reações psicológicas.

9 – Despersonalização: perda do contato consigo e com as próprias necessidades.

10 – Vazio interior, ansiedade, vícios.

11 – Sentimentos de desvalorização e de falta de interesse.

12 – Exaustão física que pode ser ameaça à vida.

Médicos e Burnout – emergência, tratamento e prevenção

Médicos e Burnout

A Síndrome do Esgotamento Profissional propriamente dito corresponde ao colapso físico e mental, que pode culminar com o suicídio. Esse estágio é considerado de emergência, havendo necessidade de ajuda médica e psicológica imediata.

Do ponto de vista terapêutico, o tratamento é realizado, basicamente, com psicoterapia. Contudo, pode incluir medicamentos como tranquilizantes antidepressivos e/ou ansiolíticos. Os efeitos poderão ser sentidos entre um e três meses, variando e podendo perdurar conforme as reações de cada paciente.

Além disso, é recomendável fazer exercícios de relaxamento, sempre que forem necessários. E o apoio de um psicólogo e um psiquiatra podem ajudar bastante na recuperação.

Prevenção

Com o diagnóstico em mãos, a providência imediata que se recomenda é que o paciente tire férias. E que, aproveitando o tempo disponível, pratique atividades de lazer com familiares e, amigos e pessoas próximas. A atividade física, assim como as sessões para relaxar, deve se tornar rotineira, com o intuito de aliviar o estresse, controlar e prevenir os sintomas do Burnout.

Dessa maneira, é importante mudar os hábitos e o estilo de vida, tendo como objetivo um modo mais moderado de viver, incluindo um olhar atento sobre a saúde. Só para ilustrar: dormir e alimentar-se bem, praticar exercícios físicos regularmente e manter uma vida social ativa.

Como mudar os hábitos diários?

É importante estar atento para alguns pontos principais da vida diária:

  • Uma boa noite de sono para relaxar e descansar o corpo e a mente. Por, pelo menos 8 horas.
  • Não leve trabalho e problemas para casa.
  • Manter uma alimentação saudável. Tanto antes, quanto durante e após a jornada de trabalho. Principalmente, quando estiver em plantões, que são, via de regra, um ambiente que favorece o estresse. Procure armazenar lanches leves e nutritivos.
  • Evite consumir frituras e refrigerantes, assim como as bebidas fortes – com frequência – e que são ricas em cafeína. Você pode se manter acordado, mas o estômago pode ser um alvo fácil.
  • Durante os plantões, procure repousar e dormir de 20 a 45 minutos, conforme indicam estudos a respeito. Isso pode auxiliar no combate ao cansaço físico e mental.
  • Tenha uma atividade física regular. Dessa maneira, você fortalecerá sua resistência física. Ao mesmo tempo, produzirá hormônios que são importantes para se sentir bem. Além disso, estará cuidando da saúde do seu coração.
  • Evite consumir bebidas alcoólicas, cigarro ou outras drogas.
  • Estabeleça objetivos para sua vida.
  • Por fim, não se esqueça de que você tem uma vida pessoal e que precisa dar uma atenção a ela. Desse modo, cultive algum tipo de hobby, cultive hábitos como ir a restaurantes e ao cinema e, sempre que possível reserve um tempo para a diversão e o lazer.
  • Ou seja: fuja da rotina e dê um descanso para a mente!

Leia também a reportagem do Medscape sobre o luto e o sofrimento como ameaças do Burnout Médico.

Resumo

Conforme detalhamos neste post, o Burnout precisa ser visto com a máxima atenção pela comunidade médica. Intimamente ligado aos locais de trabalho, a Síndrome do Esgotamento Profissional requer ações  que proporcionem aos médicos um ambiente estruturado e propício para desenvolver seu trabalho.

Com toda a certeza, diante de um cenário caracterizado pelo humanismo, com o envolvimento da equipe, o médico se sentirá motivado e realizado. Sempre pronto para dedicar a cada paciente o seu amor pelo sacerdócio que abraçou. Assim, a saúde mental dos médicos, a relação médico-paciente e a qualidade no atendimento só tendem a ganhar.

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